quarta-feira, 1 de abril de 2009

Rachê na Farra

Então, domingo (e a semana passada inteira) eu participei da Farra de Teatro. Pra quem ainda não sabe do que se trata, funciona assim: quem quiser participar, se inscreve e vai aos ensaios, que foram de terça a sábado, e apresenta no domingo um espetáculo de quase 4 horas.
Essas coisas me fazem gostar ainda mais de teatro. São muitas cenas envolvendo o público, e é tri bom. E mais, me deu um ânimo tão grande, não só em relação ao teatro, mas em tudo. Foi muito cansativo fisicamente, mas a energia mental depois dos ensaios foi de grande ajuda.
Mesmo assim, teve uma cena que eu simplesmente odiei. Era a do "desabraço": em duplas, um pedia um abraço e o outro tinha que recusar até o final. Depois, invertia a dupla. É muito ruim, muito desconfortável. É muito difícil ter que implorar por um abraço e, pior ainda, negar o abraço depois. A cena em si é boa. O problema é participar dela.
Em outra cena, a gente cantava a música "Eu sei que vou te amar" pra uma pessoa da platéia. Em um ensaio, lá fui eu cantar a música pra alguém. Vi um senhor de meia idade sentado numa pedra e fui até ele. Ele ficou me olhando, e eu vi seus olhos encherem de lágrima. Desci a altura dele e continuei cantando. Foi quando ele começou a falar da vida dele. Ele disse: "Eu perdi dois irmãos, sabe? Já faz 20 anos." e falou que mora na rua este tempo todo. E ele começou a chorar ali na minha frente. Eu também quase comecei a chorar com ele. E ele falou bem assim, pra mim: "E agora eu tô na cachaça" e, depois falou pra ele mesmo: "o que eu tô fazendo da minha vida?" Deu pra sentir o desespero daquele homem. Eu, sem saber bem o que fazer, só consegui dar um abraço nele e terminar a música.
Depois, eu fiquei pensando, quantas pessoas existem assim, na mesma situação que ele e a gente nem nota, passa ao lado e nem percebe. A gente passa ao lado dessas pessoas que têm uma carência muito grande de outras pessoas, de alguém que diga "eu sei que vou te amar por toda a minha vida".

2 comentários:

CarolBorne disse...

Caracoles, Raquelita!!!

Eu simplesmente não consegui disfarçar a emoção aqui e chorei.
Bom, mesmo assim, te digo que 'eu sei que vou te amar por toda a minha vida', mesmo que eu nunca mais consiga cantar essa música sem lembrar da tua história.

aline. disse...

uma vez eu convidei um mendigo pra tomar um café, ele disse que isso ele nao toma, só cachaça, e eu disse que isso eu nao tomo. então fiquei conversando com ele na rua e ele e contou que perdeu a filha e desde então ficou na rua.
o cara era massa.. mas eu nai disse que sabia que iria amá-lo por toda a minha vida..
as pessoas se jogam na rua quando perdem alguém..tem que ser forte pra não fazer o mesmo.
eu um dia vou perder alguém e me jogar na rua.
e talvez eu cante 'eu sei que vou te amar' todos os dias pra ficar mais triste. ou então eu vou cantar 'cadê xoxó' pra ficar mais alegre.