terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Fim de ano

Não vi que já faz tanto tempo que não escrevo nada. Está na hora de tirar o pó daqui.
Sinto que este ano o Natal não me pegou de jeito, como fazia antes. Acho que é a mudança de rotina.
Acontece que o Natal sempre vem com bastante férias e, desta vez, ainda não curti as férias. Férias da faculdade, claro. Mas, pelo menos deu pra descansar no feriadão.
E, aí vem outro feriadão. Dá pra descansar mais um pouco e, depois, vem janeiro e mais um ano inteiro pela frente. E janeiro me lembra calores infernais, pressão baixa, muita água e... tédio. Sim, porque eu nunca tenho o que fazer nas férias. Eu vou enlouquecendo durante o ano e, quando estou no ápice da loucura, quando já estou arrancando os cabelos, Puf! a cidade morre! Durante a primeira semana é uma maravilha. Depois, vem o tédio completo. Nada pra fazer, todo mundo viajando e eu trabalhando. Todo o tempo livre e eu sem conseguir aproveitá-lo.
Bem, mas vamos nessa!

Um ótimo 2009 pra vocês e um Feliz Natal (atrasado).

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Bonito isso!

Assim como a maioria das pessoas, tenho lido e ouvido muito sobre o que está acontecendo em Santa Catarina, sobre as enchentes e tal. Ouvi pela primeira vez de uma amiga minha que pedia para que eu orasse pela família dela que mora lá. A partir daí, só ouvi mais e mais sobre a situação.
E, sabe, tenho voltado a ter fé no ser humano. Eu já estava quase convencida de que a humanidade não tinha mais jeito. Daí, vejo gente de tudo que é lugar para ajudar as pessoas que perderam tudo (ou quase tudo). Teve gente que mandou comida, teve gente que mandou água potável, outros mandaram dinheiro mesmo, o que eu acho bastante útil. E teve o caso dos presidiários que fizeram jejum para doar comida pro pessoal de lá. Vi até gente se preocupando com os pobrezinhos dos animais que também sofreram com as enchentes e foram pouco lembrados. Muito bonito isso! Até voltei a ter fé na gente.
Por outro lado, soube dos preços absurdos que se cobrava pela água lá em Santa Catarina, por causa das enchentes. As pessoas precisando e os comerciantes aumentando o preço. Não sei se foram todos, mas achei triste. Já é triste o fato de as pessoas perderem suas coisas, ainda tem que desenbolsar uma grana pra poder matar a sede... É triste isso!
Agora, eu penso, será que daqui a um tempo, quando a água toda baixar e o caso sair da mídia, os brasileiros não atingidos pelas águas lembrarão do fato? Acho pouco provável. Como as coisas caem no esquecimento tão rápido! E daí, quando a poeira baixar, quem vai ajudar os catarinenses? Sabe, por enquanto eles precisam de um lugar pra ficar, comida e roupas. Mas, daqui a pouco, eles vão precisar de móveis e tudo o mais que uma pessoa precisa dentro de casa. E será que alguém vai lembrar? Por isso, acho que o dinheiro que foi mandado é útil.
Talvez seja uma de colocar na mídia de novo. Só pro pessoal lembrar.

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Tempos de Mudança

Não é bem verdade
Que uma mudança tem que ser difícil.
Tem vezes que ela já chegou
E a gente nem viu.
Não é bem verdade
O que dizem sobre as borboletas...
Não é bem verdade
Que ela não era bonita.
Quem sabe ela nem sabia da sua feiura.
Não é bem verdade...
Nem é verdade que dar um passo atrás
É retroceder.
Existe uma beleza contrarregra.
Fica-me na ideia
O voo inconsequente da borboleta.
Não para. Segue enquanto aguentar.
Quem sabe sua mudança heroica
Tenha sido apenas uma imposição da natureza.
Não é bem verdade...

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Notaram algumas palavras "estranhas"? Ainda assim, dá pra entender bem. Acostumem-se, pois é assim que vai ser.
Resolveram unificar os "portugueses" e vamos ter que reaprender. Mas, não será muito diferente do que os brasileiros já passaram outras vezes. Não será a primeira reforma. Algumas coisas até voltarão a ser como eram antes.
Qual o objetivo? Já ouvi falar até em Teoria da Conspiração.

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Crise na ULBRA?

Ok, sou só mais uma pessoa falando disso, vocês devem pensar. Mas, como não falar? Eu estudo lá, né? E como não notar uma galera gritando perto da nossa sala? Porque eu tive aula ontem.
Tem um monte de gente culpando o reitor. Mas, não acredito que a culpa toda seja dele. Sei lá, acho que tem muita gente envolvida. Acho que até aqueles alunos que não pagam a mensalidade (não os bolsistas, mas os que deveriam pagar) tem um pouco de culpa. Claro que uma "mensalidadezinha" não vai resolver toda a dívida. Aliás, nem sei qual o tamanho da dívida. Cada um diz uma coisa, e a mídia adora aumentar as histórias. E todo mundo quer dar palpite.
Só que daí fica difícil entender a coisa. A gente não sabe no que acreditar e não sabe se pode acreditar em alguma coisa. Quem sabe essa crise é de mentira? hehehehe
Acho que a gente não ouviu a metade do problema ainda. Acho que essa tal greve não vai levar a nada (nem às notas de G2). Não acredito que o pessoal não tenha sido pago por maldade. Pra mim, estão mesmo sem dinheiro. E não sei o que se pode fazer, também não sou economista (ou o que quer que resolva isso). Só acho que o reitor não está lá de braços cruzados esperando a crise passar.
Bem, mas quem sou eu pra dizer alguma coisa? Quem sabe a culpa da coisa toda não é minha? Vou me recolher a minha insignificância. Não sei exatamente o que se passa nessa crise e acho que a maioria não sabe. Então, também não vou ficar gritando: "Ei, reitor! Pague o professor!"

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Um romance, por favor.

"Esse livro deve estar muito bom", foi o que eu disse. Quando a pessoa lê durante a aula, é porque o livro é muito bom ou a aula é muito chata. Como não era o caso da aula de ontem, deduzi que o livro fosse muito bom. O livro? "Marley & eu". Nunca li. Mas, sempre me falaram bem.
Foi essa Feira do Livro que me inspirou a escrever. Ainda não consegui chegar lá, mas pretendo. Sempre tem umas coisas boas nos saldos. Sim, nos saldos. Porque livro é algo caro. Digo assim: não é que não valha a pena, mas se eu quisesse comprar todos, iria à falência. Então, saldos. Aliás, estes dias mesmo fiz uma aquisição pra minha cultura. Comprei muuuuuitos livros por muuuuuito pouco. O problema é encontrar lugar pra guardá-los. Mas, como meus livros estão sempre espalhados por aí, não acho que será um problema muito grande.
Outra coisa que eu sou completamente a favor: "biblioteca móvel" (não consegui achar um termo melhor). Meus livros lá e os livros dos outros cá. Além de não precisar comprar, a gente pode ficar com o livro bastante tempo e depois conversar sobre ele.
Agora, alguns dados: o brasileiro lê, em média, dois livros por ano. Acredito que tem gente que não lê nenhum, porque eu leio um por mês, mais ou menos. Depende do livro.
Somente um quarto da população do Brasil entende o que lê. Que triste, não? A pessoa lê o texto e não tem a menor idéia do que se trata. E depois nos perguntamos por que essa gente escreve errado, fala errado...
Ah! Outra coisa: estou precisando ler um romance. Faz tempo que leio apenas livros técnicos. Preciso abstrair.

Por enquanto, é isso. Próximo passo: Feira do Livro.

Beijos da ruiva.

sábado, 1 de novembro de 2008

Que loucura!

"Que loucura!", dizia eu, "que loucura!" Mas era exatamente disso que eu precisava. Algo para alterar minha rotina pacata e tosca, algo que me fizesse mudar. Confesso, era necessário. Sentia-me extremamente feliz. Não o tempo inteiro, mas feliz.
E era uma vida anterior confortável querendo me puxar de volta e estas estranhas novas emoções me dizendo pra ficar. Era um mundo novo que me fascinava, me envolvia. Estes dois extremos se bateram muitas vezes e sempre traziam atritos. Essa loucura era mesmo o que eu precisava.
Claro que este tempo acabou. Mas, não voltei a ser a mesma pessoa de antes. Ficaram marcas que mudaram minha vida, meus conceitos, meus sonhos. Mesmo as coisas penosas me fizeram crescer (como devem fazer). Agora, com certeza vivo melhor, tentando ter mais loucura.
Quem sabe é disso que eu preciso outra vez. Mas, agora, de uma loucura pensada. Será que podemos conversar sobre esta nova loucura?

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Mais mistérios...

Olá, pessoal.

Trago outro mistério hoje. Ontem, eu estava caminhando pela rua e reparei nestes dois folhetos de políticos. Desculpem o estado dos folhetos, mas quando os achei era quase 17h e eles já estavam bem pisados. Além disso, estava chovendo ontem.




Então, como pode estes dois apoiar os dois candidatos? Já ouvi duas explicações:
1. Os partidos que se uniram para apoiar o Nedy, que não se elegeu para o segundo turno, separaram-se e, agora, alguns apóiam o Jairo Jorge e outros apóiam o Jurandir Maciel.
2. Um dos folhetos é falso. É uma cópia descarada. E, se for isso, acho que é o do Jairo Jorge. Não por alguma ideologia política, mas pelas cores utilizadas no folheto.

E aí, como vou gostar de política, se não dá pra entender nada? Pelo menos quando era ARENA e MDB dava pra entender alguma coisa.

Por hoje é tudo, pessoal.
Até a próxima.

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Alguém entendeu?

Hoje, eu tinha que escrever alguma coisa sobre a tal crise. Mas, eita coisinha complicada, heim? Aliás, economia é uma coisa muito complicada. Tudo gira em torno de um dinheiro virtual. E a gente recebe informação de tudo que é lado e acaba ficando cada vez mais perdido. Então, vou escrever um pouquinho do que eu entendi.

Pelo que eu entendi, os habitantes dos EUA gostam de comprar casas. Daí, os bancos resolveram investir nisso e emprestaram um montão de dinheiro pra eles. Só que a casa seria do banco enquanto o cidadão não tivesse terminado de pagar (a tal da hipoteca, eu acho). E o pessoalzinho lá, dê-lhe comprar imóveis. E os imóveis começaram a valorizar. Por exemplo, um imóvel que valia US$100.000,00, passou a valer US$200.000,00. E os bancos disseram que as pessoas podiam pegar mais US$100.000,00. E elas pegaram. Daí, os imóveis começaram a desvalorizar e aquela casa passou a valer US$80.00,00 (lembrando que é um exemplo, apenas). Então, ninguém tinha dinheiro pra pagar ninguém e todo mundo deve pra todo mundo. Os cidadãos devem pros bancos, que devem para outros bancos e assim por diante.

E, onde está esse dinheiro?

Daí, surgiu mais uma coisa: as grandes empresas dos EUA estavam "mentindo" nos balanços anuais por causa da Bolsa de Valores (que é mais um mistério da economia).
Acontece que eu me perdi completamente.

E aí, alguém consegue explicar alguma coisa?

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Um Mundo Melhor



Olá, pessoas.

Como eu não sei colocar só áudio nisso aqui, fiz um vídeo super complexo pra vocês poderem ouvir a música. Tem só uma imagem, que eu acho muito boa.
A música é bem legal e a letra é ótima. É da banda DNS8.
A música fala sobre um mundo melhor que Deus pode fazer. Agora, se me perguntarem como, acredito que Ele nos dá as oportunidades para fazer o mundo melhor.

Beijos da ruiva.


Um Mundo Melhor

Você pode ser a pessoa mais bondosa da face da terra
Se tiver medo, o mal encontra espaço em você
Confie em Deus e não terá mais medo

Você pode ser soberano no mundo
E ainda assim sentir-se só
Porém quem tem amor na alma jamais sentirá solidão

Você pode enfrentar situações de extremo sofrimento
Ser tentado a desistir, a solução mais breve
Porém se continuares com Deus viverá para nunca mais sofrer

Existe um mundo melhor pra viver
Existe um mundo melhor pra morar
Um mundo novo redesenhado pelas mãos do Senhor
Confie nele e viverá

Há homens que vagam pela Terra
Procurando um destino
Não conhecem a verdade que revela o caminho da vida

Andam distantes do amor
Beirando o abismo da morte
Procuram nas entranhas do mundo a liberdade da dor
Mas somente a verdade pode libertar e trazer a paz
É difícil encontrar a coragem pra deixar as coisas do mundo
E entregar-se a uma fé que transcende os limites do homem
Por caminhos que a razão desconhece e não pode explicar

Porém,
Conduz a um mundo melhor pra viver
Um mundo melhor pra morar
Um mundo novo redesenhado pelas mãos do Senhor
Confie nele até o fim e viverá

No meu coração essa guerra acabou
Em meu peito a vida arde em constante louvor
Louvor que elevo ao Senhor

Seu nome foi louvado na noite em que na Terra nasceu
Seu nome foi louvado quando sobre a morte triunfou
Também quero louvar-te
Por teu amor
Por um mundo melhor

Tu faz um mundo melhor pra viver
Tu faz um mundo melhor pra morar
Tua vontade se estende a todos sem restrição
Quem crê em ti tem amor pra sempre e tem

domingo, 5 de outubro de 2008

Entrelinhas

Com um não escondo
aquilo que revelo no olhar.
Mostro num gesto
o que não quero falar.
Será que consegues compreender?
Por que me dizes uma coisa,
se queres realmente outra?
O que queres que eu entenda
com as frases que me falas?
O que queres que eu saiba
está entre uma frase e outra.
Falas a noite inteira
coisas que me desagradam.
Mas, com uma única palavra, ao fim,
queres que eu esqueça tudo?
São tantas estas coisas
que estão entre as nossas linhas.

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Uma dica

Hoje vou dar uma dica: o blog parafrancisco.blogspot.com. O link dele está ali ao lado, é só clicar.
Por que isso? O que tem de tão legal nesse blog?
Ele conta uma história. Uma mulher escreve para seu filho. Acontece que o menino nunca conheceu o pai, porque o homem morreu dois meses antes do nascimento do filho. Então, a mãe criou o blog para contar ao menino sobre o pai dele.
Vale a pena ler a história deles. É bonita. No início, parece triste, mas a maneira como ela encara os fatos é demais.
A vida dela parece um filme, mas é de verdade.
Fica a dica hoje.

Beijos

terça-feira, 23 de setembro de 2008

Flores


Eu sei, as coisas estão um pouco paradas por aqui. É que eu estou tentando organizar minha vida um pouco e algumas coisas são deixadas de lado.
Porém, hoje, vim aqui dar as boas-vindas a primavera (apesar de toda a alergia causada por ela). Não sei se é o prenúncio do fim do ano, a diminuição do frio ou simplesmente as cores que me fazem gostar tanto desta estação. Parece que a vida fica mais divertida.
Eu ia colocar uma imagem de lindas flores vermelhas, rosas, brancas ou amarelas, pra ilustrar este texto, mas eu vi esta imagem aí e achei que cada um tinha o direito de colorir as flores como quisesse. Afinal, somos nós mesmos que pintamos a nossa vida como preferimos.
Feliz primavera a todos.

Beijos da ruiva.

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

por aí...

olá, meus queridos.

Hoje venho mostrar como a gente pode encontrar coisas interessantes no Orkut ou em outros lugares. Encontrei este texto de uma menina no Orkut, chamada Karoline Alves. Muito interessante mesmo. É a visão dela, mas eu concordo em quase tudo. Pelo menos, por enquanto.

Aí vai (com a devida autorização da autora).
Beijos


"Fizeram a gente acreditar que amor mesmo,
amor pra valer, só acontece uma vez
acionado, nem chega com hora marcada.
Fizeram a gente acreditar que cada um de
nós é a metade de uma laranja, e que a vida
só ganha sentido quando encontramos a
outra metade.
Não contaram que já nascemos inteiros,
que ninguém em nossa vida merece carregar
nas costas a responsabilidade de completar
o que nos falta: a gente cresce através da
gente mesmo. Se estivermos em boa companhia
é só mais agradável.
Fizeram a gente acreditar que só há uma
fórmula de ser feliz, a mesma para todos,
e os que escapam dela estão condenados
à marginalidade. Não contaram que estas
fórmulas dão errado, frustram as pessoas,
são alienantes, e que podemos tentar outras
alternativas.
Cada um vai ter que descobrir sozinho.
E aí, quando você estiver muito apaixonado
por você mesmo, vai poder ser muito feliz
e se apaixonar por alguém."

quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Incompleto

Estou com problemas para concluir idéias. Nestes últimos dias, tenho tentado escrever muitas coisas, mas não consigo terminar nada. Eu começo a desenvolver alguma coisa, vem um e me destrói o raciocínio. Quanto mais eu penso, mais eu vejo que pode ser diferente. E com o tempo eu descubro que as coisas podem funcionar muito bem de outros jeitos.
E, aí, eu vou mudando de idéia, analisando os antigos conceitos e reformulando as opiniões. Este processo parece que nunca vai terminar. Daqui a pouco, eu posso pensar que isto que eu acabei de escrever não é verdade.
Bem, vou ficando por aqui. Não estou conseguindo terminar nada mesmo.

Até mais.

terça-feira, 12 de agosto de 2008

Se te queres

A correria está grande aqui. Corre pro estágio, corre pro outro estágio, corre pra aula, corre pra casa, morre na cama, ressuscita no outro dia e começa tudo de novo. Quase não tenho tempo pra ler, quem dirá pra escrever.

Estes dias eu li este poema de Fernando Pessoa, indicado pelo Gustavo. Achei muito legal e ainda o estou analisando, sabe, ficar viajando nas frases...
Espero que ninguém tente realmente se matar, mas apenas pensar um pouco sobre a vida.

Beijos.



SE TE QUERES

Se te queres matar, por que não te queres matar?
Ah, aproveita! que eu, que tanto amo a morte e a vida,
Se ousasse matar-me, também me mataria...
Ah, se ousares, ousa!
De que te serve o quadro sucessivo das imagens externas
A que chamamos o mundo?
A cinematografia das horas representadas
Por atores de convenções e poses determinadas,
O circo policromo do nosso dinamismo sem fím?
De que te serve o teu mundo interior que desconheces?
Talvez, matando-te, o conheças finalmente...
Talvez, acabando, comeces...
E, de qualquer forma, se te cansa seres,
Ah, cansa-te nobremente,
E não cantes, como eu, a vida por bebedeira,
Não saúdes como eu a morte em literatura!

Fazes falta? Ó sombra fútil chamada gente!
Ninguém faz falta; não fazes falta a ninguém...
Sem ti correrá tudo sem ti.
Talvez seja pior para outros existires que matares-te...
Talvez peses mais durando, que deixando de durar...

A mágoa dos outros?... Tens remorso adiantado
De que te chorem?
Descansa: pouco te chorarão...
O impulso vital apaga as lágrimas pouco a pouco,
Quando não são de coisas nossas,
Quando são do que acontece aos outros, sobretudo a morte,
Porque é coisa depois da qual nada acontece aos outros...

Primeiro é a angústia, a surpresa da vinda
Do mistério e da falta da tua vida falada...
Depois o horror do caixão visível e material,
E os homens de preto que exercem a profissão de estar ali.
Depois a família a velar, inconsolável e contando anedotas,
Lamentando a pena de teres morrido,
E tu mera causa ocasional daquela carpidação,
Tu verdadeiramente morto, muito mais morto que calculas...
Muito mais morto aqui que calculas,
Mesmo que estejas muito mais vivo além...
Depois a trágica retirada para o jazigo ou a cova,
E depois o princípio da morte da tua memória.
Há primeiro em todos um alívio
Da tragédia um pouco maçadora de teres morrido...
Depois a conversa aligeira-se quotidianamente,
E a vida de todos os dias retoma o seu dia...

Depois, lentamente esqueceste.
Só és lembrado em duas datas, aniversariamente:
Quando faz anos que nasceste, quando faz anos que morreste.
Mais nada, mais nada, absolutamente mais nada.
Duas vezes no ano pensam em ti.
Duas vezes no ano suspiram por ti os que te amaram,
E uma ou outra vez suspiram se por acaso se fala em ti.

Encara-te a frio, e encara a frio o que somos...
Se queres matar-te, mata-te...
Não tenhas escrúpulos morais, receios de inteligência! ...
Que escrúpulos ou receios tem a mecânica da vida?

Que escrúpulos químicos tem o impulso que gera
As seivas, e a circulação do sangue, e o amor?

Que memória dos outros tem o ritmo alegre da vida?
Ah, pobre vaidade de carne e osso chamada homem.
Não vês que não tens importância absolutamente nenhuma?

És importante para ti, porque é a ti que te sentes.
És tudo para ti, porque para ti és o universo,
E o próprio universo e os outros
Satélites da tua subjetividade objetiva.
És importante para ti porque só tu és importante para ti.
E se és assim, ó mito, não serão os outros assim?

Tens, como Hamlet, o pavor do desconhecido?
Mas o que é conhecido? O que é que tu conheces,
Para que chames desconhecido a qualquer coisa em especial?

Tens, como Falstaff, o amor gorduroso da vida?
Se assim a amas materialmente, ama-a ainda mais materialmente,
Torna-te parte carnal da terra e das coisas!
Dispersa-te, sistema físico-químico
De células noturnamente conscientes
Pela noturna consciência da inconsciência dos corpos,
Pelo grande cobertor não-cobrindo-nada das aparências,
Pela relva e a erva da proliferação dos seres,
Pela névoa atômica das coisas,
Pelas paredes turbihonantes
Do vácuo dinâmico do mundo...

terça-feira, 29 de julho de 2008

Interrogações - Pablo Neruda

Algumas destas interrogações são muito interessantes e me fazem parar um pouco pra pensar.
Texto de Pablo Neruda.


INTERROGAÇÕES

Onde deixou a lua cheia seu noturno saco de farinha?
Se termina o amarelo, com que faremos o pão?
Diga-me: a rosa está nua ou só tem esse vestido?
Há algo mais triste no mundo que um comboio imóvel na chuva?
É verdade que a esperança se deve regar com orvalho?
Por que se suicidam as folhas quando se sentem amarelas?
Por que choram tanto as nuvens e cada vez são mais alegres?
Que ocorre com as andorinhas que chegam tarde ao colégio?
Quantas perguntas tem um gato?
As lágrimas que não se choram esperam em pequenos lagos?
Onde estão aqueles nomes doces como tortas de outrora?
Quem gritou de alegria ao nascer a cor azul?
Por que se entristece a terra quando aparecem as violetas?
Como logrou a liberdade a bicicleta abandonada?
É verdade que no formigueiro os sonhos são obrigatórios?
De que ri a melancia quando a estão assassinando?
Como se chama uma flor que voa de pássaro em pássaro?
Não é melhor nunca que tarde?
Por que vivem tão esfarrapados todos os bichos-da-seda?
Que distância em metros redondos há entre o sol e as laranjas?
E por que o sol é tão mau amigo do caminhante do deserto?
E por que o sol é tão simpático no jardim do hospital?

Não vês que floresce a macieira para morrer na maçã?
Como se chama a tristeza numa ovelha solitária?
Onde vão as coisas do sonho?Vão para o sonho dos outros?
Que pesam mais na cintura, as dores ou as lembranças?
Se todos os rios são doces, de onde tira sal o mar?
Como sabem as estações que devem mudar de camisa?

terça-feira, 22 de julho de 2008

O lugar sou eu, rosa

Hoje, escrevo aqui do computador da Greice.
Este é um poema que a Carol e eu escrevemos (durante a aula, é claro). Sim, é um poema duplo. É uma viagem! Mas, ficou legal.

Abraços.



O lugar sou eu, rosa
Por Carolina Ferreira Rota e Raquel Amsberg de Almeida


Mar sem onda,
rosa sem perfume,
Onde foi que se perdeu,
onde?

O vazio se faz,
o escuro se achega.
Onde foi que me perdi,
onde?

É certo que existem
barreiras, onde nada
se cresce, onde nada
se faz,
Onde rosa não existe,
e o mar não é mar.

É certo que lá me encontro
e me pego a sonhar
com rosas que não existem,
com um gostoso banho de mar.

E eu, que faz tanto tempo,
tanto tempo que já não sei
mais, queria viver sorrindo,
mudando, mudando como o ar.

Viajando pelo mundo,
tocando cada flor,
e a cada curva soltando
um grito, riso de amor.

Eu que amei tanto,
e sofri em pranto,
sigo solta,
amando e amando
meu corpo não foi de
meuitos, só teu
queme deu a rosa
encantou-me,
mas feriu-me com espinhos teus.

Meu amor, que foi
todo teu, aos poucos
foi despedaçado,
ferido, quebrado.
Meu coração que
era vermelho vivo,
é cinza todo em cacos.
Agora, sou levada,
amando, amando...
Amando a solidão
e amando a multidão.

Chame de vulgaridade,
não mais depender de
quem tanto amei,
Amo, amo tanto
olho tantos olhos,
vou por caminhos,
diferentes,
lugares diferentes
e neles esperança
de encontrar
outras rosas,
outros mares
e amores.
Sou o vento,
sou a rosa,
sou o mar,
sou amor.

quinta-feira, 17 de julho de 2008

Coisas que eu gosto

Hoje, eu estava meio sem inspiração, então resolvi escrever algumas coisas que eu gosto. São coisinhas que me alegram. Aí vai!
Coisas que eu gosto:
> Olhar o movimento da rua
> Conversar com crianças
> Caminhar à noite
> Rir
> Ouvir Adriana Calcanhotto e cantar junto
> Um abraço
> Assistir desenho
> Conversar até não agüentar mais de sono
> Ler
> Ficar sozinha em casa
> Brincar no balanço
> Escrever
> Brincar de pega-pega
> Olhar as pessoas no trem (sempre tem alguém muito divertido...)
> Os amigos reunidos
> Rodinha de violão
> Ônibus de excursão
> Chocolate (e não vou entrar em outros detalhes culinários)
> Sentar no chão
> Andar descalça
> Fotos
> Banho de mar, piscina, cachoeira, chuva, qualquer coisa

Bem, tem muito mais coisas de onde vieram essas, mas eu vou parar por aqui.

segunda-feira, 14 de julho de 2008

O estagiário

Boa noite, gente boa.

Antes de tudo, quero retificar a autoria do texto "Morre lentamente", postado no dia 12 de maio. Hoje, entrei no blog da Martha Medeiros e descobri que o texto é dela e que há muito circula pela internet como sendo do Pablo Neruda. Também, o título é outro: A Morte Devagar.

Agora, mais um texto de minha autoria.
Abraços.



O ESTAGIÁRIO


A porta do escritório abriu tão rapidamente que o estrondo que fez quando bateu na parede pode ser escutado em toda a agência. Está certo que não era uma agência muito grande, mas todo mundo ouviu. O chefe entrou gritando:
- Carlos! O que significa isto? – Ao terminar a frase, voou para cima da mesa de Carlos a Zero Hora de domingo, aberta na página onde estava o anúncio feito por ele, o estagiário.
Carlos segurou aquelas preciosas (e caras) folhas com ambas as mãos. Subiu um frio pela espinha quando ele viu: o valor estava errado!
- E sabe quem vai ter que pagar por isto? – continuou o enfurecido chefe, com o rosto rubro e as veias salientes – EU! Você sabe quanto me custou este anúncio? Sabe? – Esta era uma daquelas perguntas retóricas que as pessoas que exercem alguma autoridade adoram fazer.
- Não sei, não, senhor? – Respondeu ingenuamente o estagiário. Mas, a resposta foi apenas:
- Isto não pode mais acontecer, Carlos. Isto não pode mais acontecer.
- Não, senhor. – Disse ele cabisbaixo.
- E não vai. Carlos, quero sua mesa limpa até às 18h.
Ele não tinha como argumentar. Cometera uma falta gravíssima. Apenas assentiu com a cabeça e ficou parado enquanto o ex-chefe saía.



A estória é bastante exagerada, mas tenho a impressão de que não está tão fora da realidade assim. Como disse o David Coimbra, as pessoas querem tolerância zero, e é o que elas recebem. A gente não perdoa uma falha alheia, principalmente quando se trata de relações profissionais (seja como colega de trabalho ou cliente). A gente liga para as empresas e reclama de não falar com seres humanos, se irrita com as mensagens gravadas, mas trata os funcionários como máquinas, sem tolerar erros. Agora, quando somos nós que cometemos o erro, nos justificamos: errar é humano!


Mais sobre intolerância no blog do David Coimbra (copie e cole): http://www.clicrbs.com.br/blog/jsp/default.jsp?source=DYNAMIC,blog.BlogDataServer,getBlog&uf=1&local=1&template=3948.dwt§ion=Blogs&post=82794&blog=219&coldir=1&topo=3994.dwt

quinta-feira, 10 de julho de 2008

O menino que comia pitangas - Última parte

Boa tarde!
Chegamos ao final da história. É um post grande, mas é o final. Vale à pena.
Espero que tenham gostado.
Beijos



O sábado amanheceu escuro. Nuvens pretas tapavam o céu até onde se podia ver. Juninho podia dormir até mais tarde no sábado, mas ele não conseguia mais pegar no sono. Por fim, levantou-se e encontrou sua mãe na cozinha, passando café.
- Bom dia, Juninho. Por que está de pé tão cedo num sábado? Sabe que hoje é sábado, né? – ouviu a mãe dizer.
- Sim, mamãe. Mas eu não consigo dormir. – respondeu. A mãe serviu uma xícara de café para ele. Ele colocou açúcar e ficou um tempo misturando o café. A mãe notou sua preocupação.
- O que aconteceu? – perguntou.
- Eu não sei. Faz quatro dias que a Margarida não vai à escola. – ele disse isto mais para si mesmo do que para a mãe.
- Esta menina deve estar com algum problema. Você já tinha me dito que ela estava estranha e quieta e que tinha chorado outro dia. O que houve com ela? – indagou a mãe. Juninho engoliu o choro e não respondeu, apenas balançou a cabeça em sinal negativo.
Do lado de fora, ouviu-se um caminhão estacionar. Juninho disparou para a janela para ver o que estava acontecendo. A mãe de Margarida estava de pé na porta de casa e conversava com o motorista do caminhão que havia descido do veículo. Ele assentiu com a cabeça e seguiu a mulher triste para dentro de casa. Juninho continuou com o rosto grudado no vidro, o embaçando com a respiração, limpando com a manga do casaco e repetindo o processo muitas vezes.
Passou algum tempo até que o motorista saísse da casa. Ele trazia uma caixa de papelão no ombro que colocou dentro do caminhão. Parecia pesada. Voltou para dentro da casa e, logo, saiu com outra caixa. Ele passou aproximadamente meia hora colocando caixas no caminhão. O moço sentado no banco do passageiro fazia algumas anotações num caderno. Assim que não havia mais caixas, o senhor gordo e careca chamou o rapaz, que prontamente fechou o caderno e o seguiu. Juninho viu os móveis mais importantes da casa serem colocados no caminhão. Duas camas, sofá, gaveteiro, fogão, geladeira, algumas cadeiras e uma mesa. Por fim, veio uma mesinha, seguida de uma televisão pequena e antiga. O caminhão partiu. Juninho continuava na janela, observando tudo.
Fazia mais de uma hora que a mãe de Margarida tinha voltado para dentro de casa, fechando a porta atrás de si. Juninho não desgrudava os olhos da casa da frente. Sua mãe o chamou para almoçar. Ele esperou mais alguns minutos, mas, depois, foi.
Durante o almoço, Juninho notou uma movimentação na casa da amiga. Correu para a janela e viu que as duas mulheres saíam da casa com malas. Elas estavam vindo na direção da casa dele. Bateram na porta. Ele correu para atender.
- Olá, Juninho. Sua mãe está em casa? – perguntou a senhora, segurando a mão da filha. As malas estavam largadas no chão, ao pé delas. A mãe dele apareceu à porta.
- Tudo bem, Claudete? – disse ela, com ar de preocupação.
- Nós estamos nos mudando para outra cidade. – respondeu a vizinha. – Só vim despedir-me e agradecer por tudo.
Juninho olhou para Margarida. Ela fitava os próprios pés. Ele saiu da casa e foi até a pitangueira. Começou a pegar as frutinhas maduras e, logo, percebeu a presença da menina. Ela estendeu-lhe uma folha de papel. Seus olhos estavam rasos de lágrimas. Ele pegou o papel e lhe entregou as pitangas. Junto com as pitangas, deu-lhe uma flor branquinha, a mais bonita que tinha colhido no dia anterior para esperá-la debaixo da árvore. Ela aceitou o presente e ouviu sua mãe chamá-la. Estavam prontas para partir. Ela olhou fundo nos olhos dele. Juninho viu que ela não era mais a mesma criança com quem brincava. Ela não era mais criança.
- Adeus! – Foi a única coisa que disse. Ele não conseguia responder. Um nó havia se instalado na sua garganta e não o deixava pronunciar uma palavra sequer.
Ela o abraçou e, depois, virou-se e encontrou-se com a mãe. O carro do tio as aguardava encostado na frente da casa. Carambola a estava seguindo. Ela alisou os pelos da cabeça dele pela última vez. Juninho estava ao lado da sua mãe, emoldurado pela porta aberta. As duas adultas, mãe e filha, entraram no carro. Margarida ficou olhando Juninho através da janela fechada. A chuva começava a cair. As lágrimas igualmente rolavam dos olhos de Juninho e Margarida.
O carro partiu. Partiu-se também o coração de Juninho. Nunca havia sentido uma dor tão forte lhe oprimindo o peito. Sua mãe o puxou para junto de si e os dois viram o carro seguir até o fim da rua. Juninho desdobrou a folha que ganhara. Nela, estava desenhada, em traços infantis, uma flor branca de miolo amarelo. Era a única foto que ele tinha da amiga. A chuva estava mais forte, assim como as lágrimas do menino. Ela partira. Uma mulher partira. A menina com quem brincava havia-se perdido em algum lugar naquela escola.

terça-feira, 8 de julho de 2008

Briga de criança

Lembro muito de um amigo que eu tinha quando era criança. Ele era uns três anos mais novo, e eu estava naquela idade de me achar super madura (fase que, aliás, durou muito tempo). Eu era um tanto “esquentadinha” e, como toda boa alemoa, era teimosa. Esse meu amigo morava no mesmo prédio que eu. Todo dia, a gente batia na porta um do outro e passava horas brincando.
De vez em sempre, a gente acabava brigando por alguma bobagem, uma dessas coisas de criança. A gente discutia, xingava, batia e até chorava! Tudo por causa de uma coisinha de nada, tão insignificante que eu nem me lembro mais. Daí, cada um ia para sua casa, emburrado, e contava tudo para a mãe. Acho que minha mãe nunca levou muito a sério estas briguinhas. Estava certa. Dali a uns 5 ou 10 minutos, tocava a campainha. Era o vizinho chamando pra brincar. E eu ia. Às vezes, era eu que descia as escadas e tocava no apartamento dele. Mas, tanto fazia quem tomava a iniciativa, a gente brincava como se nada tivesse acontecido.
Eu vejo isso acontecer muito com as crianças. Por alguns minutos, aquela pessoa se torna sua pior inimiga. A criança não quer falar com a outra nunca mais. Mas, como criança não tem noção de tempo, o “nunca mais” termina logo. Ainda bem, porque criança briga bastante. Só que eu não vejo isso acontecer com gente grande. Os adultos demoram mais pra brigar, mas não conseguem esquecer as coisas. Demoram pra perdoar, esquecer.
Esse perdão que as crianças conseguem dar me parece a forma mais pura de perdão. Elas ficam realmente bravas e revoltadas com a situação, mas conseguem perdoar e esquecer. Os adultos (e incluem-se também os adolescentes) têm uma coisa que as crianças não têm (e que não faz nenhuma falta): ORGULHO, aquele orgulho que não nos deixa perdoar de verdade, esquecer que a outra pessoa fez algo que nos desagradou, nos machucou. Parece que a gente vai perder alguma coisa se desculpar o outro, quando, na verdade, acontece justamente o contrário. Podem ver como as crianças logo estão brincando alegres de novo, depois de esquecer aconteceu.
Acredito que a gente tenha muito que aprender com as crianças. A gente vai crescendo e perdendo aquela simplicidade e humildade. Aí está uma coisa que os adultos podiam perder: esse orgulho ruim.

quinta-feira, 3 de julho de 2008

O menino que comia pitangas - Parte VIII

Os dias passavam e Juninho sentia-se sozinho na escola. Os meninos direcionavam as brincadeiras de mau-gosto só para ele, agora. Isto não o incomodava tanto, pois sabia que, se as crianças falava isto para ele, queria dizer que não o falavam para Margarida. Ele passava o recreio se balançando, com a esperança de ver a amiga chegar a qualquer momento. Olhava para os lados, procurava entre os colegas, mas não a encontrava. À tarde, ele não falava sobre isso com ela, porque sabia que ela voltaria a ter aquele olhar perdido que o perturbava.
Com o tempo, Juninho notou que Margarida sorria menos. Ela aparecia na porta de casa todas as tardes, encontrava o vizinho com o olhar e sorria rapidamente. Depois, vinha caminhando na direção dele. Sentava-se na frente dele, sem sorriso nenhum. Ele lhe oferecia as pitangas e ela sorria um pouco, mas logo voltava à sua figura melancólica.
Ele tinha medo de perguntar o que estava acontecendo com ela, pois sabia que ela retomaria aquele olhar vazio, perdido, pensativo. Tentava alegrá-la de todas as maneiras que podia. Dava-lhe mais pitangas do que antes, escolhia só as brincadeiras que ela gostava, não se irritava com coisas pequenas e trazia as flores que tinham seu nome com mais freqüência. Ela gostava muito das flores e sorria um pouco mais nos dias que ganhava.
Na escola, tudo continuava igual. Ele já estava se acostumando a brincar sozinho outra vez. Até que, num dia frio e chuvoso, ela começou a chorar no caminho de volta para casa. Ele não sabia o que fazer. As lágrimas lhe escorriam do rosto uma atrás da outra, sem parar, e ele tinha vontade de fazer o mesmo. Nunca a tinha visto chorar. Não daquele jeito. Às vezes ela chorava um pouco quando caía e se machucava, mas era só um pouco. Agora, ela não parava de chorar e ele não sabia onde estava doendo para olhar e poder dizer que tinha um machucado igual e que não demoraria a curar. Num impulso, passou o braço sobre os ombros dela e continuou andando, sem falar nada. Neste momento, ele sentiu que era o coração dela que doía. E doía muito. Eles andaram assim até chegarem em casa.
Naquela tarde, Juninho esperou por ela debaixo da árvore, com as pitangas no bolso da calça. Ela chegou um pouco mais tarde do que de costume. Não chorava mais, mas seus olhos estavam vermelhos. O jardim bonito da casa do outro bairro era muito longe para aquele dia frio, então, ele levou-a para ver as flores do beco da ruela ali perto. Ela olhou para as flores e sorriu. Ele pegou uma flor, a mais bonita, e colocou na mão dela. Ela sorriu outra vez, mas logo seu sorriso desapareceu e seu olhar perdeu-se na flor. Não estava mais ali. Sua mente estava distante outra vez.
No dia seguinte, Juninho esperou a amiga para irem juntos à escola. Ela estava demorando muito para aparecer. Foi até a porta da casa dela e bateu. Foi a mãe de Margarida quem atendeu.
- A Margarida está em casa? – perguntou o menino.
- Está, sim. Mas ela se recusa a ir à aula hoje. – respondeu a viúva baixa de olhos escuros e cabelo amarrado num coque. – Não entendo por que. – completou.
Ele não respondeu. Não sabia o que dizer, na verdade. A mulher disse-lhe para ir para a escola e avisar a professora que Margarida faltaria à aula. Ele fez o que ela pediu.
A cena repetiu-se no dia seguinte e no outro e no dia depois deste. Todo este tempo, Margarida não saiu de casa. Todas as tardes, ele a esperou debaixo da árvore, mas ela não apareceu.

quarta-feira, 2 de julho de 2008

Tempo para estar só

Enfim, férias! Depois de toda a correria de final de semestre, agora eu posso descansar um pouco, até as aulas começarem novamente, em agosto. Segunda-feira, eu pensei: “Eu estou de férias... bem que eu podia fazer alguma coisa diferente. Eu tenho a noite inteira livre pra fazer o que eu quiser.” Que sensação boa! Daí, eu decidi ir ao cinema.
Desci do ônibus e comecei minha caminhada até o cinema. Encontrei dois amigos no trajeto, e os dois me perguntaram onde eu estava indo. Quando eu disse que ia ao cinema sozinha senti um certo estranhamento. Será que é tão estranho ir sozinha ao cinema? Afinal, qual é o problema? Bem, pode ter sido só coisa da minha cabeça.
Cheguei lá e fui escolher o filme. Uma tarefa fácil, considerando que eu não precisava discutir a decisão com ninguém. Além disso, já fazia uns dois ou três meses que eu não ia ao cinema, ou seja, qualquer filme que estivesse em cartaz eu ainda não tinha assistido.
Não precisei pensar muito, a solução estava diante dos meus olhos. Para uma garota sozinha numa segunda à noite, que filme melhor do que “Sex and the City”? Caiu como uma luva.
Então, fui assistir a história daquelas quatro mulheres de Nova Iorque. E por duas horas e meia consegui fugir um pouco da realidade e me envolver naquele enredo feminino. Com certeza, a gente se identifica com algumas coisas que acontecem.
No fim das contas, foi uma experiência muito boa. Apesar de ver casais e grupos de amigos no cinema, não me senti mal de estar sozinha. Na verdade, me senti muito bem. Acho que todo mundo deveria fazer algo assim de vez em quando. Sabe, passar um tempo consigo mesmo, decidindo o que EU quero fazer hoje, o que EU vou comer, que filme EU vou assistir. Depois, a gente volta pro mundo real bem mais tranqüilo. Bem, fica a dica. Eu aconselho. Por experiência própria.

sexta-feira, 27 de junho de 2008

O tempo que não existe


Hoje é meu aniversário (pra quem ainda não sabe). Já estou fazendo 20 anos, mas eu não me sinto com 20 anos. Daí, eu paro pra pensar e vejo que a idade não depende do dia que a gente nasceu. Está mais na cabeça. E eu começo a pensar sobre o tempo.
Não é que a aula não estivesse interessante aquele dia, mas a "conversa paralela" estava bem mais. Conversa vai, conversa vem, o Thiago larga esta:
- Qual é o tamanho do presente?
E aí, todo mundo parou pra pensar, mas ninguém sabia responder.
Pô, qual é o tamanho do presente?! O que eu disse a um segundo atrás já é passado e o que eu vou dizer daqui a um segundo, ou até menos que isso, ainda está no futuro. Então, O PRESENTE NÃO EXISTE! Simplesmente não existe. E isso causa uma confusão tão grande que a gente começa a pensar: "o que é o tempo?"

Beijos a todos!

quinta-feira, 26 de junho de 2008

O menino que comia pitangas - Parte VII

No dia seguinte, viu a mãe sentada ao lado dele na cama. Ele mediu a febre dele e disse que ele não poderia ir à escola naquele dia.
- Mas a Margarida não pode ir sozinha! – argumentou.
- Se é esta sua preocupação, a Amélia leva ela até a escola hoje. – respondeu a mãe.
Juninho estava um pouco mais tranqüilo, mas não gostava da idéia de deixar a amiga sozinha com aquelas crianças que os insultavam. Teve de se conformar. Não conseguia sair da cama.
À tarde, recebeu a visita da amiga e sua mãe. As duas eram muito parecidas e tinham um sorriso que nunca se apagava. Juninho não saberia dizer se ela era também parecida com o pai, pois sabia que ela não tinha chegado a conhecê-lo. Ele havia falecido pouco tempo antes de ela nascer. Eles conversaram sobre a escola e cantaram o samba-enredo que tinham aprendido uns dias atrás. Elas não puderam ficar muito tempo, porque Amélia disse que o irmão estava muito fraco ainda. Mal elas saíram do quarto, Juninho pegou no sono outra vez.
Aos poucos, Juninho foi melhorando. Ficou mais de uma semana sem ir à aula. Todo este tempo, Amélia se encarregou de levar Margarida até a escola, apenas para tranqüilizar o irmão doente.
Enfim, pode voltar à escola. O dia estava nublado e cinzento. Soprava um vento frio que bagunçava o cabelo de Margarida. Ele notou que a amiga estava mais quieta. “Deve ser o frio”, pensou.
No intervalo, ele a esperou perto dos balanços da pracinha, mas ela não foi o encontrar. Isto se repetiu por alguns dias, sem que Juninho encontrasse uma explicação. Chegou a contar o fato para a irmã, mas ela tentou acalmá-lo dizendo que ela devia estar apenas conhecendo outras amigas na escola. Explicou que isto era uma coisa normal e que ele teria que se acostumar.
Juninho não acreditou na história da irmã. Todos os dias, ele via todas as crianças da turma de Margarida brincando no pátio da escola, mas ela não estava lá. Ele quis saber por que ela não brincava mais com ele no intervalo, mas ela não respondeu. Só disse que não podia mais brincar com ele na escola. Pediu desculpas e mudou de assunto.
Era difícil de entender. Eles sempre tinham sido muito amigos, por que, agora, ela não podia mais brincar com ele no recreio? Ele esperou pacientemente tanto tempo para ter companhia na escola e ela não podia brincar. Era incompreensível. Ele tentou afastar estes pensamentos e inventar uma brincadeira para aquela tarde nublada. Carambola estava deitado ao lado deles ouvindo a conversa e sendo afagado pela mão da menina. O olhar dela estava distante. Ela olhava o cachorro, mas não o via realmente. Juninho sentiu-se culpado por isso e chamou-a para brincar na rua. Neste momento, ela voltou à realidade e sorriu para ele. Então, eles se divertiram o resto do dia.

sexta-feira, 20 de junho de 2008

O menino que comia pitangas - Parte VI

O dia amanheceu muito claro. Juninho estava animado para o seu primeiro dia de aula do ano. Este ano, ele não andaria mais sozinho. Este ano, ele teria uma amiga para brincar no recreio. Arrumou-se ligeiro, pois estava ansioso para encontrar a amiga. Esperou-a na frente do portão com sua mochila vermelha. Ele era o único dos cinco irmãos que estudava na escola do bairro. Todos os outros estudavam no bairro vizinho. Mas, agora, Margarida o acompanharia todos os dias até a escola.
Ela apareceu com seus sapatos cor-de-rosa e com uma presilha de flor na cabeleira negra. Ela carregava uma mochila marrom com um laço de fita xadrez na alça. Estava claramente feliz com o seu primeiro dia de aula. Juninho faria de tudo para aquele ser um dia inesquecível.
Chegaram à escola bastante adiantados. Quase não havia crianças no pátio. Ele mostrou os brinquedos da pracinha e apontou a janela da sua sala de aula. Provavelmente, aquela seria a sala de Margarida este ano, mas ele disse que era a sua sala. Mostrou onde ele tinha caído uma vez e ganhado uma cicatriz rosada no joelho. O fim da expedição coincidiu com o sinal de início da manhã de estudos. Cada um foi encontrar sua turma e voltariam a se falar no recreio, perto dos balanços.
Pela primeira vez, Juninho não passou o recreio sozinho. Como estava feliz! Nem se importava com alguns insultos que, por vezes, as outras crianças lhe dirigiam. Ele tinha uma amiguinha com quem brincar.
Os insultos que ele recebia começaram a ser dirigidos a Margarida também. Ele ficava irritado, mas Margarida não se deixava abalar. Não se importava e parecia nem ouvir o que as crianças falavam.
Os dois iam à escola e voltavam dela juntos. Todos os dias, sem exceção. Todas as tardes, os dois brincavam juntos debaixo da pitangueira. Comiam pitangas e alisavam o pelo de Carambola.
As chuvas estavam começando. Mesmo assim, Juninho sentava debaixo da pitangueira para esperar Margarida. Amélia dizia para ele sair de lá, quando o via, mas ele não obedecia. Preferia esperar por Margarida.
A chuva estava mais forte naquele dia. Juninho sentou-se debaixo da árvore e esperou pela amiga. Esperou com Carambola por muito tempo, mas ela não apareceu. Amélia insistiu para que ele entrasse em casa, mas ele não queria sair de lá. Amélia ameaçou contar para a mãe, então Juninho teve que se render aos pedidos dela. A chuva caia copiosamente do outro lado da janela. Juninho encostou o rosto na janela da sala e ficou ali, esperando por Margarida. A porta da casa da frente não se abriu.
Estava quase desistindo, seus irmãos o chamavam para brincar no quarto, quando ele avistou a amiga. Não estava na porta como de costume. Vinha de mão dada com sua mãe pela rua, debaixo de um guarda-chuva preto rasgado. Vinham caminhando rapidamente, tentando desviar das goteiras formadas pelas pontas de telhados. Margarida olhou para a casa dele e o viu na janela. Ele limpou o vidro embaçado com a manga do casaco de lã e viu quando ela acenou e sorriu para ele. Ele sorriu e acenou de volta. Sua mãe a puxou pela mão para dentro da casa, fugindo da chuva grossa. Juninho finalmente saiu da janela.
- Vá tomar um banho, Juninho! – Era a voz de Amélia. Ela estava na cozinha começando a cozinhar o jantar. Juninho virou-se, pegou uma roupa no quarto e entrou no banheiro.
Saiu do banho na hora de arrumar a mesa para o jantar. Via-se que não estava sentindo-se bem. O nariz escorria, os olhos insistiam em fechar e os ombros estavam arcados para frente. A tosse começava devagar. Amélia foi logo repreendê-lo:
- Eu te disse pra não ficar debaixo daquela árvore na chuva. Por que você não entrou quando eu te pedi? – mas a voz dela parecia distante.
Juninho sentiu a mão da irmã agarrá-lo pelo braço e puxá-lo pelo corredor da casa até o quarto. Ela falava muitas coisas que ele não conseguia prestar a atenção. Deitou-se na cama e ouviu a irmã dizer que “a mãe vai ficar sabendo disto e ele vai ficar de castigo”. Mas ele não se importava. Queria dormir. A tosse não o deixava pegar no sono. Amélia saiu do quarto e, quando voltou, trouxe uma xícara de chá para ele tomar. Ela o fez sentar-se na cama e expulsou os irmãos do quarto. Com muito esforço, ele tomou o chá até o fim.

quinta-feira, 19 de junho de 2008

Saudoso amigo


Tive que fazer esta paradinha hoje. Amanhã a gente volta com "O menino que comia pitangas"


Saudoso amigo

Porque a gente nunca o via triste.
Porque a gente gostava da falta de escrúpulos dele.
Porque a gente ria muito juntos.
Porque a gente podia conversar sobre qualquer coisa sem sentir vergonha.
Porque a gente não concordava em tudo e, por isso, nossas conversas eram legais.
Porque a gente tentava convencer o outro do contrário.
Porque, mesmo convencidos, a gente não dava o braço a torcer.
Porque a gente sempre tinha assunto.
Porque a gente se perdia naquele violão e esquecia de voltar pra aula.
Porque a gente gostava das músicas dele.
Porque a gente tinha sonhos infantis.
Porque a gente trocava conhecimento sobre gramática e redação.
Porque a gente tinha o mesmo sonho: escrever.
Porque a gente se emprestava livros.
Porque a gente gostava dos mesmos livros.
Porque a gente brincava feito crianças no meio da ULBRA.
Porque a gente vinha de mundos diferentes mas, mesmo assim, se gostava muito.
Por tudo isso, Thiago, tu foste um grande amigo e a gente nunca vai te esquecer.
Adeus!

terça-feira, 17 de junho de 2008

O mundo é meu – Humanidade

Chegamos ao ápice desta trilogia. Primeiro, vimos que o mundo é a nossa casa e que convivemos nele com outras pessoas. Depois, falamos sobre como os homens fazem parte de um todo maior e sobre o cuidado com o meio ambiente. Agora, escrevo sobre o mais importante: o SER HUMANO. Não é nenhum tipo de egocentrismo, é exatamente o contrário. De nada adianta cuidar do meio ambiente e saber que o mundo é nossa casa e se esquecer das pessoas que dividem o mundo conosco.
Muitas vezes vemos um cãozinho de rua e sentimos muita pena dele e, logo adiante, passamos por uma criança pedindo “uma moeda, tio” e dizemos que não temos, continuando nossa caminhada apressada. O cãozinho não tem culpa de ser “de rua”. Nem a criança! Dizer que a culpa é dos pais dela é fugir da responsabilidade. Esse menino é gente como a gente. É um ser humano como nós, porém vítima de uma sociedade egoísta, uma sociedade onde quem tem muito quer sempre mais e não divide.
O Brasil é um dos países com maior desigualdade social. Tem pessoas que tem muito, muito dinheiro e uma grande maioria com pouquíssimo dinheiro. Há uma boa parte da população que não tem nem o que comer. E existem os que têm condições de alimentar mais umas seis famílias, além da sua. Mas, é claro que eles não alimentam estas seis famílias. Parece que quanto mais as pessoas possuem, mais egoístas elas se tornam. Volta e meia sai alguma notícia de pessoas que fazem ações sociais e, quase nunca são pessoas ricas. Por vezes, também sabemos de grandes doações feitas por milionários famosos para instituições de caridade. Não sei quais são as reais intenções dos doadores, mas, pelo menos, ajudam.
Voltando ao menino com fome, sei que não se deve dar dinheiro para estas crianças. Sei que lugar de criança é na escola ou brincando, sendo criança. Mas, se o menino está com fome, como pode estudar? Como pode brincar? É um grande paradoxo, mas sempre há uma solução. A gente pode começar um trabalho voluntário ou, simplesmente, dar um sanduíche ao invés de uma moeda.
Acredito que o que falta nas pessoas é compaixão pelos outros. Falta amor. Fala-se tanto em ter cuidado com nós mesmos, com nosso corpo, com nosso dinheiro, nossa casa, carro, etc. e se esquece de estender este cuidado ao próximo. Nós estamos todos morando no mesmo mundo. Quando um perde, todos perdem. Quem disse que para um ganhar os outros têm que perder? Há sempre uma maneira de todos ganharem juntos. Se nós reconhecermos que as pessoas de rua são tão humanas quanto nós, já estaremos um passo mais perto de ajudá-los por vontade, por querer-lhes bem.
Quando eu morrer – porque eu penso na morte, não que eu tenha medo, mas, eventualmente, me ocorre que um dia eu vou morrer – quero ter a consciência de que o mundo é um pouco melhor por minha causa. Isso faria minha vida ter valido à pena. Quero saber que tem uma pessoa vivendo melhor, uma criança a menos na rua, uma família sem fome. Quero saber que eu fiz a diferença, porque o mundo é meu e eu sou responsável por ele.

quinta-feira, 12 de junho de 2008

O menino que comia pitangas - Parte V

Depois de almoçar o feijão-com-arroz de sempre, foi sentar-se debaixo da pitangueira. Chegou Carambola e deitou-se ao seu lado. Juninho pousou a mão sobre a cabeça dele e alisou os pelos do cão copiosamente. Margarida saiu à porta da casa e seu olhar encontrou Juninho recostado no tronco da árvore. Sorriu e atravessou a alameda saltitante. Aquela era a última tarde de férias. Eles resolveram aproveitar da melhor maneira: indo até o jardim florido no outro bairro.
Caminharam despreocupadamente durante muitos minutos, rua após rua, lomba após lomba. Estavam ofegantes por causa do sol forte e das subidas íngremes. Mas valia à pena. Eles sabiam que valia à pena.
As flores estavam cheirosas e a caramboleira estava com as folhas verdinhas. O jardim parecia estar mais bonito do que na primavera. A luz do sol iluminava cada flor, cada folha e cada borboleta que passava. Juninho foi pegar uma carambola para ele e uma para Margarida. Os dois sentaram-se ali perto, encostados num muro baixo de um terreno abandonado e comeram as carambolas. O calor estava muito intenso e Juninho sentiu-se sonolento. Margarida não conseguia manter os olhos abertos.
Acordaram uma hora depois, com o sol começando a baixar. Margarida levantou num pulo e arrumou o vestido. Juninho pôs-se de pé e os dois iniciaram o caminho de volta, seguidos pelo fiel companheiro, Carambola.
Chegaram antes de notarem a ausência deles. Já estava quase na hora de Juninho arrumar a mesa da janta, tarefa que ele terminou antes que pedissem. Jantou uma sopa de arroz com pouco sal e tirou os pratos da mesa. Estava cansado da caminhada da tarde e, logo, foi se deitar. Seus irmãos já estavam em suas camas. Otávio lia uma revista de história em quadrinhos que era de um amigo seu, e Vitor brincava com um carrinho velho. Juninho acomodou-se debaixo do cobertor fininho e adormeceu assim que deitou a cabeça no travesseiro.

segunda-feira, 9 de junho de 2008

O mundo é meu: meio ambiente

Não gosto quando dizem que o homem destrói o meio ambiente. Não que não seja verdade, mas isso dá a impressão de que a humanidade é uma coisa separada do resto. Parece que a onça pintada e a jaguatirica vivem numa esfera diferente da nossa. Mas, nós moramos todos no mesmo mundo. O ser humano também faz parte da natureza. Sendo assim, quando o homem destrói o meio ambiente está prejudicando a si mesmo, não tão indiretamente quanto possa parecer.
Na escola, nos ensinam que as pessoas de antigamente desmataram imensas áreas de florestas nativas e hoje sofremos as conseqüências disto. Noto que as coisas não mudaram muito de lá pra cá. Nós continuamos desmatando e, ainda por cima, também poluímos o ar, a água e, até mesmo, a terra. Nós continuamos destruindo espécies e não pensando no futuro. Continuamos a fazer estas coisas estúpidas. E toda esta estupidez não vai afetar apenas o futuro, já sofremos com isto agora, cada vez que chove e os bueiros entopem, transbordam e arruínam casas e pessoas, ou cada vez que saímos nas ruas e adquirimos problemas respiratórios gratuitamente causados pela poluição.
Não sou contra usar elementos da natureza para nosso benefício, mas temos que lembrar que nada desaparece, as coisas se transformam. O plástico usado na sacola do mercado, por exemplo, não some só porque o colocamos o lixo pra fora, ele continua no mundo. Não existe lado de fora do mundo. Tudo que está aqui, aqui fica. São toneladas de lixo que se produz todo dia. E isto tudo fica convivendo conosco.
Porém, se tudo se transforma, podemos tirar proveito disto. Quer dizer que tudo pode ser reaproveitado, basta encontrar a melhor forma de fazer isto. A reciclagem é um ótimo exemplo de reaproveitamento. Também, podemos reaproveitar de outras formas. Podemos utilizar garrafas plásticas, caixas de papelão, latas de bebidas para construir coisas novas, é só usar a imaginação. Afinal, tem gente que vive disto. Tem os que vivem de catar papel, plástico, lata, vidro e vender para a reciclagem.
Tem os que “fazem a sua parte” separando o lixo em casa, economizando água, desligando as luzes, usando menos plástico. Só que a “minha parte” não se resume a isto. Acredito que temos o dever de esclarecer as pessoas sobre estas coisas. Existe gente que não tem esta consciência ambiental. Nós precisamos ir até elas de alguma forma e ensiná-las.
Além das pessoas que não sabem, há os que sabem e não praticam. Sempre me pareceu que isto acontece mais nas classes altas da sociedade. São pessoas que não se preocupam tanto em reaproveitar as coisas, pelo simples fato de que não precisam. Se algo estraga ou se quiserem alguma coisa nova, eles podem comprar. Não quer dizer que todos são assim, até mesmo porque estas pessoas geralmente são mais esclarecidas.
Isto nos mostra que reaproveitamento, reciclagem e cuidado com o meio ambiente é uma forma de economizar. Quando fechamos a torneira enquanto escovamos os dentes ou em momentos durante o banho, economizamos água. Quando apagamos as luzes durante o dia ou quando não há ninguém no cômodo, economizamos energia elétrica. São coisas pequenas, mas que no final do mês fazem uma diferença considerável no bolso.
No final, todo mundo sai ganhando. Se o jeitinho brasileiro é tirar proveito onde for possível, não temos desculpas pra não cuidar do nosso mundo.
O mundo é meu, e eu sou responsável por ele.

quinta-feira, 5 de junho de 2008

O menino que comia pitangas - Parte IV

Bom dia!
Aí vai mais uma parte do conto. Boa leitura.

Abraços



Dona Teresa admirou-se da hora que os filhos chegaram em casa.
- Terminou cedo o desfile este ano. – disse.
- Ainda não terminou, mãe. – respondeu Amélia. - É que não estou sentido-me bem e resolvemos voltar para casa. Vou me deitar.
Juninho entendeu que a irmã nunca contaria o que realmente acontecera para a mãe. Talvez por isso ela tivesse gritado tanto com eles. Juninho disse boa noite para a irmã e para a mãe e foi para o quarto. Seus irmãos não estavam no quarto. Ele se deitou na cama do meio e imaginou o que seus irmãos estariam fazendo e quem os repreenderia desta vez. Eles não gostavam de assistir os desfiles, então, sempre arranjavam um outro programa com amigos da rua. No último ano, eles foram encontrados perturbando os animais do Seu Tadeu. Na manhã seguinte ao acontecido, as vacas não deram leite e as galinhas estavam estressadas. Descobriu-se que tinha sido os filhos do Seu Paulo, de quem Juninho era filho também, que armaram a peraltice. Ficaram uma semana sem poder brincar na rua.
Não demorou muito para Juninho adormecer no quarto vazio. No meio da noite, ele acordou e viu que seus irmãos ainda não haviam voltado para casa. Levantou-se e caminhou até a cozinha para beber um copo de água, apesar de sua mãe ter dito para não o fazer. Sempre que bebia água à noite, seu colchão e lençóis amanheciam molhados. Encontrou sua mãe dormindo no sofá da sala. Pegara no sono esperando os filhos voltarem. Juninho pensou no castigo que receberiam desta vez.
Pela manhã, ficou sabendo que seus irmãos só poderiam sair de casa para ir à escola por duas semanas. Nada de brincar na rua depois do almoço ou à noite. Só o tempo suficiente para ir e voltar da escola. Não lhe contaram o que aconteceu na noite anterior, mesmo tendo insistido até sua mãe o mandar brincar na rua com “aquele cachorro imundo”. Ela não gostava de Carambola, mas Juninho não desistiu do amigo. Até que, por fim, ela teve que se render. “Mas não quero saber dele aqui dentro de casa. Lugar de cachorro é na rua. Ainda mais de cachorro fedido e sujo”, foi o que ela disse. De fato, o cusco nunca entrou na casa.
As aulas começariam no dia seguinte. Juninho foi preparar seu material assim que acordou. Abriu a gaveta mais baixa do móvel da sala e tirou de dentro dela alguns cadernos velhos e um estojo com lápis, borracha, apontador e uma bolinha de gude de vidro verde. A bolinha de gude servia para dar sorte nas provas bimestrais. Pegou ainda uma mochila com a alça direita remendada e com um zíper que não fechava mais. Guardou tudo na mochila vermelha e encostou-a ao pé da cama.

segunda-feira, 2 de junho de 2008

O mundo é meu

Alguém disse que, no Brasil, o espaço público é um lugar de ninguém e não um lugar de todos, como deveria ser. O que essa pessoa quis dizer é que ninguém se preocupa com um lugar que é seu. Acontece que as pessoas parecem não entender que este é um espaço delas. Pensam que seu espaço termina nos limites da sua propriedade. Pois lhes digo que o espaço público também é seu. A calçada que eu caminho também é minha; o orelhão também é meu; os bancos, as lâmpadas, as praças, as árvores, tudo isto é meu.
Vamos pensar o seguinte: eu moro numa casa. Esta casa está num bairro de uma cidade que, por sua vez, ocupa um lugar no estado que faz parte de um país e todos os países formam o mundo. Portanto, o mundo inteiro é minha casa. Não seria óbvio, seguindo esta lógica, que eu cuidasse do mundo como cuido da minha casa?
Vocês podem dizer “mas tem tanta gente que pode cuidar” ou “mas a minha casa eu cuido do jeito que eu quero” e eu respondo: o mundo é como uma casa onde vive bastante gente. Cada um faz uma tarefa e ajuda os outros, porque a casa também é sua. Entra-se em consenso de como fazer as coisas para que todos fiquem satisfeitos. E todos sabem que, se cada um fizer a sua parte, a casa vai melhorar e progredir.
Acredito que com o mundo também funcione desta forma. Com cada um fazendo sua parte o mundo só pode melhorar e progredir. Assim, posso concluir que o mundo é meu e eu sou responsável por ele.

sexta-feira, 30 de maio de 2008

O menino que comia pitangas - Parte III

Boa noite, pessoal.

Eu sei que eu disse que o conto sairia toda quinta-feira, mas houve um probleminha (vírus) com meu computador e só estou conseguindo postar hoje. Perdoem-me!
Aí vai. Quinta-feira que vem, tem mais.

Abraços.



Chegou o dia das apresentações. Juninho passou a manhã inteira insistindo para Amélia levá-lo ao centro da cidade à noite. Ele se irritou com os pedidos dele e o mandou à venda comprar arroz para ele parar de chateá-la. Ele foi, mas foi pensando em como convencê-la. No caminho, parou para apanhar uma margarida no beco das flores.
Não conseguiu pensar numa forma de convencer a irmã. Almoçou um pingado de arroz com feijão e salada de alface, pois era tudo que tinha para comer. Tirou a mesa e ajudou a secar a louça lavada. Sentou-se debaixo da pitangueira e esperou. Carambola deitou-se ao seu lado e esperou também. Ainda estava imaginando como faria para ir ao centro da cidade naquela noite. A porta da casa da frente não demorou em abrir e, de dentro da casa, saiu a menina sorridente. Ela veio saltitando e chegou à frente dos dois amigos inseparáveis. Juninho logo lhe entregou a flor que colhera de manhã e viu o sorriso dela ficar ainda maior e mais bonito. Ele achava impossível ela ficar mais alegre do que já estava, mas o rosto dela iluminou-se maravilhosamente quando Amélia anunciou que eles iriam ao desfile mais tarde.
- Mesmo? – disse Juninho. Ela confirmou sorrindo. - E o Carlos vai conosco. – acrescentou.
Carlos era um moço moreno da rua de cima. Era uns dois anos mais velho que Amélia e vivia escrevendo cartas para ela. Trabalhava com o pai numa oficina e estudava à noite na escola do centro da cidade. Juninho não gostava muito dele, mas ele fazia sua irmã sorrir e levá-lo ao desfile, então, não podia reclamar.
Escureceu tarde naquele dia. No horário que eles começaram a expedição, o sol ainda brilhava detrás dos prédios. As poucas nuvens tinham um tom avermelhado e a lua já aparecia tímida. A noite tornou-se estrelada e Juninho fazia perguntas sobre os astros celestes. Amélia respondia com “sins” e “nãos” secos, com frases curtas e sem olhá-lo realmente. Quando estavam apenas os dois irmãos, ela o olhava de verdade. Foi assim um bom pedaço do caminho, até que Juninho desistiu da irmã. Ela queria mesmo era conversar com o Carlos e isto irritava Juninho. Ele enfiou as mãos nos bolsos e andou carrancudo de cabeça baixa até chegarem ao local do evento. Procuraram um bom lugar para assistir e esperaram.
O desfile começou com uns 15 ou 20 minutos de atraso, mas eles nem perceberam. Estavam todos ocupados. Amélia e Carlos ocupavam-se um do outro. Juninho olhava as estrelas com mil dúvidas em sua cabeça, mas não podia perguntar à irmã, então conversava com Margarida. Esta, por sua vez, conversava com Juninho e olhava a avenida, cuidando quando as escolas começariam a passar.
A música vinha ao longe, com uma batida animada e repetida várias vezes. O volume ia aumentando aos poucos, entrando pelos ouvidos de Margarida quase a fazendo dançar. Na frente deles passou a escola favorita, onde eles puderam ver Silvana dançando esplendorosa nos saltos altíssimos e com o corpo dourado e coberto de penas e brilhos. Eles logo decoraram o samba-enredo da escola e o cantariam por várias semanas depois.
A escola passou e Margarida precisou ir ao banheiro. Amélia levou-a enquanto Carlos e Juninho cuidavam dos lugares. A próxima escola começava a se aproximar. Carlos estava tão entretido com a música que nem notou que Juninho não estava mais ao seu lado. Ele só percebeu quando Amélia e Margarida voltaram aos seus lugares e ela perguntou por ele com voz alterada.
- Onde está Juninho? – disse ela quase gritando com os olhos cheios de lágrimas de desespero e raiva. Ele olhou ao redor e viu que ele não estava por perto.
- N-não sei – gaguejou. Amélia começou a gritar e xingá-lo. Carlos estava acuado, sem reação, pálido. De repente, eles deram falta de mais uma criança. Margarida havia sumido também.
Amélia caiu em pranto e quase desmaiou. Carlos tirou-a do meio da multidão e tentou acalmá-la. Ela recompôs-se em parte, sentada em um banco, com um copo de água na mão. Assim que conseguiu ficar de pé, pôs-se a procurá-los. Carlos teve de segui-la para não perder mais um de vista. Ela pensou que Margarida pudesse ter voltado ao banheiro por ter esquecido alguma coisa, mas ela não estava lá. Procurou perto dos bares e na pracinha, mas eles não estavam nestes lugares também. Foi até a praça central, mas não os encontrou lá. Estava quase entrando em novo desespero, quando teve um estalo. Juninho gostava muito de Silvana e ela já não estava mais na avenida. Correu para a sede da escola que estava cheia de pessoas fantasiadas e, como não encontrou as crianças no meio das pessoas, entrou num corredor comprido e cheio de portas de madeira que ocultavam salas. Uma delas estava aberta e ela ouviu vozes saindo de lá. Logo reconheceu a voz do irmão e da sua amiga. A terceira voz era uma suave voz de mulher e, em seguida, constatou-se que Silvana era a dona do belo timbre. Amélia entrou na sala num pulo quase esmagador:
- Juninho! Margarida! O que vocês dois estão fazendo aqui?! Por que saíram sem avisar? O que vocês estavam pensando?! Sabem como me deixaram preocupada?! – e continuou a enxurrada de perguntas que os dois não sabiam se deveriam ou não responder.
Decidiram ficar calados e baixar a cabeça em submissão. Amélia pegou os dois pelas orelhas, um em cada mão e os levou para fora da sala. Colocou-os de frente a ela e gritou mais um monte de frases intimadoras e, agora, balançava o dedo indicador no ar. Eles continuavam calados. Carlos observava-os a uma distância segura de braços cruzados e ombros encolhidos.
Quando terminou, os ouvidos deles doíam. Ela os agarrou pelas mãos e seguiu para fora do corredor. Margarida ainda olhou para trás uma última vez e viu Silvana escorada no marco da porta, um pouco escondida dentro da sala. Acenou para Margarida que não pode conter um sorriso tímido nos lábios.

quarta-feira, 21 de maio de 2008

O menino que comia pitangas - Parte II

Aí vai mais um pedaço da história.

Abraços.


Eles andavam por todo o bairro, subindo nas árvores, descendo as ruas correndo, pulando nas pedras. Havia um jardim muito bonito em uma casa no início do bairro, com lindas flores por todos os lados e árvores bem verdinhas. Era longe, mas às vezes eles iam até lá só para ver as flores na primavera e, é claro, roubar algumas frutas. O nome do cusco tinha vindo deste mesmo jardim, onde se achava uma caramboleira. Foi debaixo desta árvore que, há um ano, Juninho encontrou Carambola, ainda filhote, com a pata da frente quebrada. Ele pegou o cusco e o levou pra casa. A partir daquele dia, Juninho e Carambola se tornaram inseparáveis. Carambola só saía pelas ruas sozinho quando Juninho ia à escola ou tinha que fazer suas tarefas domésticas.


Certa vez, Juninho estava indo com sua irmã mais velha, Amélia, até a venda comprar pão e leite, um daqueles raros dias em que se podia comprar leite. Passando por uma travessa, Juninho viu que havia flores num cantinho cheio de plantas. Ele se soltou da mão de sua irmã e foi correndo olhar as flores e os insetos que nelas se abrigavam. Amélia, com sua habitual paciência, chegou ao lado de Juninho e disse:
- Sabe qual é o nome dessa flor? – Juninho virou-se para ela, ansioso pela resposta – chama-se margarida, igual a sua amiguinha. – Juninho achou o máximo existir uma flor com o nome dela. – Agora, vamos. – E puxou-o pela mão.
Ele não conseguia parar de pensar no que acabara de descobrir. “Uma florzinha tão delicada, igual à Margarida”, pensava ele.
No caminho de volta, Juninho parou novamente naquele canto das plantas e pegou uma das flores: a mais branquinha, a mais perfeita delas. Segurou-a com cuidado para não machucá-la e foi para casa.
Chegando a sua casa, sentou-se debaixo da árvore e, como de costume, comeu algumas pitangas. Logo, chegou Carambola.
- Sabia que essa flor se chama margarida, Carambola? É o mesmo nome da nossa amiga. – Carambola olhava para Juninho, mas Juninho olhava para o infinito.
Ali em frente, a porta se abrira como de costume. De dentro da casa, saiu Margarida e veio ao encontro dos dois amigos. Ela sentou de frente para eles, esperando as pitangas. Mas, desta vez, Juninho tinha algo muito melhor para lhe dar. Mostrou-lhe a flor e disse:
- Tome. É para você. – Ela arregalou os olhos e abriu o maior sorriso que ele já tinha visto. Pegou a flor e a observou por um longo tempo. Enquanto ela admirava o presente, ele falou:
- Sabe como se chama essa flor? – Ela balançou a cabeça em sinal negativo – Chama-se Margarida. Igual ao seu nome. – A menina fitou-o com seus olhos negros. Ele viu que ela sorria também com os olhos. Nunca tinha visto ninguém sorrir com os olhos. Aliás, era raro ver alguém sorrir. Além de sua amiga, só via a sua irmã sorrir quando recebia alguma carta misteriosa ou passava em frente a uma praça, no centro da cidade, e, aí, ela sorria junto de um suspiro. Sua mãe sorria, às vezes, quando seus filhos eram queridos ou seu marido elogiava seu cabelo. A professora da escola não sorria nunca. Era um dos motivos de Juninho não gostar de ir à escola. Ele também não gostava porque não tinha nenhum amigo. Passava longas horas sozinho com seus livros didáticos, dos quais não entendia muita coisa. Mas, quando as aulas começassem novamente, as coisas iriam mudar. Margarida faria sete anos em fevereiro e chegaria a hora de ela começar a ir à escola também. Então, ele não passaria mais tanto tempo sozinho.
Com todo o cuidado, Margarida guardou a flor no bolso do vestido de pregas. Juninho ofereceu a última pitanga e ela aceitou. Hoje, ele só tinha guardado uma pitanga. Não que ele não quisesse ter guardado, mas é que estava com tanta fome que, quando percebeu, restava apenas uma. A ordem da mãe era que o leite e o pão que foram comprados ficassem guardados até ela chegar em casa. Até lá, faltavam umas quantas horas.
Os dois se levantaram e saíram correndo pela rua. Carambola veio ligeiro atrás. Hoje, eles iriam assistir ao ensaio geral da escola de samba do bairro ao lado. Em dois dias, começariam os desfiles de carnaval no centro da cidade e as escolas de samba estavam na maior correria para que tudo saísse perfeito. Algumas vezes, eles assistiam aos ensaios daquela escola e, normalmente, ganhavam alguma coisa no final. Uma vez, ganharam um saco de balas. Em menos de quinze minutos, já não havia mais nenhuma. Outra vez, deram um chapéu velho, rasgado e cheio de penas para ela e uma corneta de plástico azul para ele. Mas, desta vez, era o ensaio geral.
Pela tradição da escola, no ensaio geral aberto ao público eram distribuídos pipoca e confetes para todas as crianças que estivessem lá. No final, ainda convidavam a todos os presentes para uma refeição. A refeição tratava-se de uma sopa de arroz aguada, que era servida em tigelas de metal, uma para cada pessoa. Era bom chegar cedo para pegar o papelzinho que dava direito a uma porção da sopa.
Quando os três chegaram ao local do ensaio, ainda não havia quase ninguém lá. O ensaio começaria às 17h, dali a uma hora e meia. Eles foram aos vestiários para encontrar sua amiga Silvana, uma morena linda de 1,70m e cabelos negros que caiam em cachos volumosos até a cintura. Este ano, ela seria a rainha da bateria. Ela sempre os recebia de braços abertos e com muitos beijos. Estava sempre empoleirada em saltos muito altos e muito finos. Margarida se imaginava em saltos e roupas como as dela.
Eles a encontraram fazendo a maquiagem. Ela estava maravilhosa! Usava roupas douradas e sandálias da mesma cor. Havia penas por todos os lados e brilho, muito brilho. Brilho no corpo, nas roupas, nas penas, no rosto. Assim que Silvana os viu na porta do quartinho, levantou-se e veio em pequenos saltos alegres. Abaixou-se e os abraçou como de costume, distribuindo beijos, enquanto os apertava com os braços lisos.
- Juninho! Margarida! Eu estava com saudades de vocês. Vocês estão bem? – Eles assentiram com a cabeça. – Que bom! Agora, vão brincar lá fora que eu preciso terminar de me arrumar. Encontro vocês depois do ensaio, está bem?
Lá se foram os dois. Pegaram os vales-sopa e foram brincar nas árvores. Perto deles, algumas crianças da escola de Juninho brincavam de polícia-e-ladrão. No momento que viram Juninho, gritaram alguns insultos infantis e continuaram brincando. O menino fechou a cara e sentou-se num galho com os braços cruzados sobre o peito, uma perna encolhida e a outra pendurada. Margarida aproximou-se dele, sentando-se noutro galho. Ela se acomodou e tirou a flor do bolso para ficar admirando. Juninho notou seu gesto e começou a desfazer a cara amarrada. Quando ela percebeu que ele já estava alegre novamente, guardou a flor e o convidou para brincar.
Depois de brincarem bastante, chegou a hora do ensaio. Deu o sinal e eles saíram correndo para conseguir um lugar. Conseguiram um lugar bem pertinho do desfile, onde Silvana passaria. O ensaio estava lindo! Juninho e Margarida estavam maravilhados. Parecia que nunca tinham visto um ensaio tão bonito e alegre. Na hora que Silvana passou, Margarida acenou para ela, seguida de Juninho, e a rainha da bateria piscou para eles. A menina com nome de flor não conseguia tirar o sorriso do rosto.
Foi um dia cansativo. Juninho chegou em casa quando o sol estava se pondo. Quase deixou sua irmã preocupada. Margarida correu para casa assim que avistou sua mãe na porta, a esperando. Amélia já foi mandando o irmão arrumar a mesa da janta e tirar as roupas do varal. Ele estava sem fome. Não porque a sopa o tinha alimentado, mas porque só conseguia pensar no samba-enredo que ouvira à tarde e como gostaria de estar tocando com a bateria. Ele foi recolher as roupas do varal cantarolando a música nova que aprendera. Dali a dois dias ele poderia pedir para sua irmã levá-lo ao desfile da cidade, onde ele poderia torcer pela sua escola favorita.

segunda-feira, 19 de maio de 2008

Pracas do meu Braziu


Já recebi muitos e-mails com “pracas do Braziu”. Quem nunca viu, pode entrar no Google e procurar que certamente vai encontrar muitos exemplares destas placas espalhadas pelo nosso país. Eu olho para estas placas e vejo como nosso povo é ignorante. O pior é que estas placas não estão apenas nos estabelecimentos mais humildes, estão em qualquer lugar. É certo que a maior incidência é em locais pobres, mas têm grandes redes de lojas onde se podem encontrar, além de produtos, erros de português. Espero que sejam apenas erros de digitação.
Daí, já podemos adivinhar algumas coisas das pessoas. Quando eu vejo uma “praca do Braziu” já imagino que o estabelecimento seja humilde, venda coisas baratas e tenha pouca preocupação com higiene. Não quer dizer que seja verdade e pode até ser preconceito da minha parte, mas é o que me parece. Quero dizer, me transmite um nível de cultura mais baixo.
Mas, a gente até entende um erro de português de um lugar assim. O que eu não entendo, é como uma pessoa entra numa faculdade cometendo erros primários de português. Não entendo como uma pessoa pode concluir o Ensino Médio com uma escrita tão precária. Já vi textos de colegas da faculdade que continham erros de pontuação, acentuação, concordância, além de frases sem final e palavras inventadas. Tudo num texto só! Nem preciso dizer que a idéia central do texto era ruim também. O que eu vou pensar de uma pessoa assim? Eu sei que pode ser preconceito meu, mas considero uma pessoa ignorante. Não estou falando de cometer um deslize na acentuação de uma palavra ou algo assim. Estou falando de não se fazer entender através de um texto.
Não quero culpar ou condenar a internet, mas é um meio informal, onde se admitem erros. Só que temos que saber separar uma coisa da outra. Eu mesma fico mal acostumada quando uso demais o MSN. Não exijo que as pessoas com quem eu converso escrevam tudo corretamente, mas às vezes eu não consigo entender o que a pessoa quer dizer. Como vou responder?
Porém, o problema maior não é este, afinal, somente uma pequena parte da população tem acesso à internet. O grande problema é o sistema educacional. Existem crianças cursando a 4ª série sem conseguir entender o que lêem ou sem saber ler direito. Ler e escrever se aprende, teoricamente, na 1ª série! Se isso não é corrigido logo no início, depois tem gente entrando na faculdade sem saber escrever um texto direito. Muito me admira conseguirem passar no vestibular.
De cada quatro brasileiros, apenas um entende o que lê. Isto é triste. Isto é muito triste. Eu imagino que uma pessoa que não entende o que lê tem uma dificuldade incrível para aprender alguma coisa, para progredir.
É preciso melhorar o ensino básico. É preciso educar a população. Eu não sei como. Sei apenas que é necessário.

quinta-feira, 15 de maio de 2008

O menino que comia pitangas

Hoje, posto a primeira parte de uma história. É um conto que eu mesma escrevi. Toda quinta-feira, escreverei aqui mais uma parte do conto, até que ele se acabe.
Bem, aí vai.
Abraços a todos.


O MENINO QUE COMIA PITANGAS (parte 1)


Juninho observava a aproximação dela. Como todos os dias, por volta das 15h, ela aparecia na porta com seus mesmos sapatinhos cor-de-rosa, espiava para dentro do pátio da casa da frente e vinha saltitante ao encontro dele. E todos os dias ele a esperava, com seus bolsos cheios de pitangas.
A pitangueira ficava nos fundos da pequena casa em que morava. A árvore não era grande nem frondosa. Não apenas por ser uma pitangueira, mas porque tinha se criado sozinha e continuava crescendo sozinha. Quase como Juninho. Com seus sete anos, pele clarinha, queimada pelo sol, cabelos quase brancos, costelas visíveis e estatura baixa para sua idade, ele precisava tomar conta de si mesmo a maior parte do tempo. Ia à escola de manhã e brincava durante a tarde. O que mais um menininho poderia fazer? Mas ele tinha suas obrigações em casa. Seus pais eram trabalhadores e ele era o caçula de quatro irmãos. Suas tarefas domésticas eram as mais simples, como ajudar a irmã mais velha a lavar as roupas ou os pratos, arrumar a mesa do almoço e da janta, ir à venda comprar arroz e voltar com o troco certo.
Esse problema do troco era mesmo difícil. Juninho estava na primeira série e não era muito bom em matemática. Mesmo assim, era ele quem ia à venda. Sua irmã lhe entregava o dinheiro e já dizia o quanto ele deveria trazer de volta. “Não vá comprar balas”, dizia ela, “eu sei quanto custa o quilo do arroz e quero todo o troco de volta”. Por isso, e porque a comida nem sempre era suficiente, Juninho costumava devorar as pitangas do quintal. Então, logo depois do almoço, ele sentava debaixo da pitangueira e comia quantas pitangas conseguisse pegar, mas sempre guardava um punhado no bolso para Margarida, a vizinha da frente. Tão logo ele se acomodava no chão, chegava Carambola. Carambola era um cusco mirrado, manco de uma pata, com pelos acinzentados e embaraçados e orelhas caídas. Quando não estava com Juninho, Carambola vivia na rua, sempre procurando por comida. À noite, ele vinha para dormir debaixo da árvore onde encontrava seu amigo humano durante o dia. Juninho e Carambola eram muito amigos, tanto quanto um menino e um cusco podem ser. Inclusive, o nome Carambola foi idéia de Juninho.
Os dois já estavam sentados lá fazia um bom tempo, quando ela apareceu. Conferiu se o seu amigo estava no lugar de sempre e atravessou a rua saltitante. Ela sempre vinha saltitando. Era um ano mais nova que Juninho, mas era até mais alta que ele. Tinha longos cabelos negros, cacheados nas pontas. Sua pele era mais escura e também queimada do sol. Os olhos pareciam duas jabuticabas, escuros e profundos. Ela chegava e sentava de frente para Juninho, sempre com as pernas cruzadas como índio. Aliás, sua aparência lembrava muito uma indiazinha. Ele entregava as pitangas para Margarida e dizia:
- Tome. Guardei para você. – e ela sorria. Sorria aquele sorriso lindo que só ela tinha.
E os dois saíam para brincar. Aliás, os três, porque Carambola sempre os seguia por toda parte.

segunda-feira, 12 de maio de 2008

Morre lentamente

Gosto deste texto do Pablo Neruda.


"Morre lentamente
Quem não viaja,
Quem não lê,
Quem não ouve música,
Quem não encontra graça em si mesmo.

Morre lentamente
Quem destrói seu amor próprio,
Quem não se deixa ajudar.

Morre lentamente
Quem se transforma em escravo do hábito,
Repetindo todos os dias os mesmos trajetos.

Quem não muda de marca,
Não se arrisca vestir uma nova cor
Ou não conversa com quem não conhece.

Morre lentamente quem evita uma paixão e seu redemoinho de emoções,
justamente as que resgatam o brilho dos olhos e os corações aos tropeços.

Morre lentamente quem não vira a mesa quando está infeliz no trabalho ou no amor.
Quem não arrisca o certo pelo incerto, para ir atrás de um sonho.

Morre lentamente
Quem passa os dias queixando-se de sua má sorte, ou da chuva incessante.

Morre lentamente
Quem abandona um projeto antes de iniciá-lo.

Morre lentamente
Quem nunca pergunta sobre um assunto que desconhece
e nem responde quando lhe perguntam sobre algo que sabe.

Morre lentamente
Quem não se permite, pelo menos uma vez na vida, fugir dos conselhos sensatos...
Viva hoje! Arrisque hoje! Faça hoje! Não se deixe morrer lentamente!

Evitemos a morte em suas suaves proporções,
Recordando sempre que estar vivo
exige um esforço muito maior que o simples ar que respiramos.

Somente com infinita paciência conseguiremos a verdadeira felicidade."

quinta-feira, 8 de maio de 2008

Repensando a vida

Acordei. Pensei em mudar alguma coisa. Levantei, liguei o computador e soube que precisava mudar alguma coisa. Peguei o ônibus e revezava entre ler um livro e olhar pela janela. Decretei: vou mudar alguma coisa. Caminhava pela calçada no final do dia e entendi: não precisava mudar alguma coisa, eu precisava mudar a mim mesma.

Durante mais ou menos dois anos, muitas idéias foram entrando na minha cabeça, outras simplesmente nasceram lá dentro. Estes pensamentos, vindos de todos os lados, estavam cozinhando em fogo baixo. Agora, depois de tentar organizar alguma coisa, começo a colocar tudo em prática.

Preciso mudar atitudes e reações, porque os pensamentos já estão mudando.

Começo deletando o flogão e criando este blog. Comecei a pensar no flog como algo superficial, então criei o blog, onde posso expor pensamentos, que dizem muito mais sobre mim.

Mas, se alguém ainda quiser ver o meu rosto, está aí, à vista no blog.