quinta-feira, 26 de junho de 2008

O menino que comia pitangas - Parte VII

No dia seguinte, viu a mãe sentada ao lado dele na cama. Ele mediu a febre dele e disse que ele não poderia ir à escola naquele dia.
- Mas a Margarida não pode ir sozinha! – argumentou.
- Se é esta sua preocupação, a Amélia leva ela até a escola hoje. – respondeu a mãe.
Juninho estava um pouco mais tranqüilo, mas não gostava da idéia de deixar a amiga sozinha com aquelas crianças que os insultavam. Teve de se conformar. Não conseguia sair da cama.
À tarde, recebeu a visita da amiga e sua mãe. As duas eram muito parecidas e tinham um sorriso que nunca se apagava. Juninho não saberia dizer se ela era também parecida com o pai, pois sabia que ela não tinha chegado a conhecê-lo. Ele havia falecido pouco tempo antes de ela nascer. Eles conversaram sobre a escola e cantaram o samba-enredo que tinham aprendido uns dias atrás. Elas não puderam ficar muito tempo, porque Amélia disse que o irmão estava muito fraco ainda. Mal elas saíram do quarto, Juninho pegou no sono outra vez.
Aos poucos, Juninho foi melhorando. Ficou mais de uma semana sem ir à aula. Todo este tempo, Amélia se encarregou de levar Margarida até a escola, apenas para tranqüilizar o irmão doente.
Enfim, pode voltar à escola. O dia estava nublado e cinzento. Soprava um vento frio que bagunçava o cabelo de Margarida. Ele notou que a amiga estava mais quieta. “Deve ser o frio”, pensou.
No intervalo, ele a esperou perto dos balanços da pracinha, mas ela não foi o encontrar. Isto se repetiu por alguns dias, sem que Juninho encontrasse uma explicação. Chegou a contar o fato para a irmã, mas ela tentou acalmá-lo dizendo que ela devia estar apenas conhecendo outras amigas na escola. Explicou que isto era uma coisa normal e que ele teria que se acostumar.
Juninho não acreditou na história da irmã. Todos os dias, ele via todas as crianças da turma de Margarida brincando no pátio da escola, mas ela não estava lá. Ele quis saber por que ela não brincava mais com ele no intervalo, mas ela não respondeu. Só disse que não podia mais brincar com ele na escola. Pediu desculpas e mudou de assunto.
Era difícil de entender. Eles sempre tinham sido muito amigos, por que, agora, ela não podia mais brincar com ele no recreio? Ele esperou pacientemente tanto tempo para ter companhia na escola e ela não podia brincar. Era incompreensível. Ele tentou afastar estes pensamentos e inventar uma brincadeira para aquela tarde nublada. Carambola estava deitado ao lado deles ouvindo a conversa e sendo afagado pela mão da menina. O olhar dela estava distante. Ela olhava o cachorro, mas não o via realmente. Juninho sentiu-se culpado por isso e chamou-a para brincar na rua. Neste momento, ela voltou à realidade e sorriu para ele. Então, eles se divertiram o resto do dia.

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