quinta-feira, 5 de junho de 2008

O menino que comia pitangas - Parte IV

Bom dia!
Aí vai mais uma parte do conto. Boa leitura.

Abraços



Dona Teresa admirou-se da hora que os filhos chegaram em casa.
- Terminou cedo o desfile este ano. – disse.
- Ainda não terminou, mãe. – respondeu Amélia. - É que não estou sentido-me bem e resolvemos voltar para casa. Vou me deitar.
Juninho entendeu que a irmã nunca contaria o que realmente acontecera para a mãe. Talvez por isso ela tivesse gritado tanto com eles. Juninho disse boa noite para a irmã e para a mãe e foi para o quarto. Seus irmãos não estavam no quarto. Ele se deitou na cama do meio e imaginou o que seus irmãos estariam fazendo e quem os repreenderia desta vez. Eles não gostavam de assistir os desfiles, então, sempre arranjavam um outro programa com amigos da rua. No último ano, eles foram encontrados perturbando os animais do Seu Tadeu. Na manhã seguinte ao acontecido, as vacas não deram leite e as galinhas estavam estressadas. Descobriu-se que tinha sido os filhos do Seu Paulo, de quem Juninho era filho também, que armaram a peraltice. Ficaram uma semana sem poder brincar na rua.
Não demorou muito para Juninho adormecer no quarto vazio. No meio da noite, ele acordou e viu que seus irmãos ainda não haviam voltado para casa. Levantou-se e caminhou até a cozinha para beber um copo de água, apesar de sua mãe ter dito para não o fazer. Sempre que bebia água à noite, seu colchão e lençóis amanheciam molhados. Encontrou sua mãe dormindo no sofá da sala. Pegara no sono esperando os filhos voltarem. Juninho pensou no castigo que receberiam desta vez.
Pela manhã, ficou sabendo que seus irmãos só poderiam sair de casa para ir à escola por duas semanas. Nada de brincar na rua depois do almoço ou à noite. Só o tempo suficiente para ir e voltar da escola. Não lhe contaram o que aconteceu na noite anterior, mesmo tendo insistido até sua mãe o mandar brincar na rua com “aquele cachorro imundo”. Ela não gostava de Carambola, mas Juninho não desistiu do amigo. Até que, por fim, ela teve que se render. “Mas não quero saber dele aqui dentro de casa. Lugar de cachorro é na rua. Ainda mais de cachorro fedido e sujo”, foi o que ela disse. De fato, o cusco nunca entrou na casa.
As aulas começariam no dia seguinte. Juninho foi preparar seu material assim que acordou. Abriu a gaveta mais baixa do móvel da sala e tirou de dentro dela alguns cadernos velhos e um estojo com lápis, borracha, apontador e uma bolinha de gude de vidro verde. A bolinha de gude servia para dar sorte nas provas bimestrais. Pegou ainda uma mochila com a alça direita remendada e com um zíper que não fechava mais. Guardou tudo na mochila vermelha e encostou-a ao pé da cama.

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