quinta-feira, 15 de maio de 2008

O menino que comia pitangas

Hoje, posto a primeira parte de uma história. É um conto que eu mesma escrevi. Toda quinta-feira, escreverei aqui mais uma parte do conto, até que ele se acabe.
Bem, aí vai.
Abraços a todos.


O MENINO QUE COMIA PITANGAS (parte 1)


Juninho observava a aproximação dela. Como todos os dias, por volta das 15h, ela aparecia na porta com seus mesmos sapatinhos cor-de-rosa, espiava para dentro do pátio da casa da frente e vinha saltitante ao encontro dele. E todos os dias ele a esperava, com seus bolsos cheios de pitangas.
A pitangueira ficava nos fundos da pequena casa em que morava. A árvore não era grande nem frondosa. Não apenas por ser uma pitangueira, mas porque tinha se criado sozinha e continuava crescendo sozinha. Quase como Juninho. Com seus sete anos, pele clarinha, queimada pelo sol, cabelos quase brancos, costelas visíveis e estatura baixa para sua idade, ele precisava tomar conta de si mesmo a maior parte do tempo. Ia à escola de manhã e brincava durante a tarde. O que mais um menininho poderia fazer? Mas ele tinha suas obrigações em casa. Seus pais eram trabalhadores e ele era o caçula de quatro irmãos. Suas tarefas domésticas eram as mais simples, como ajudar a irmã mais velha a lavar as roupas ou os pratos, arrumar a mesa do almoço e da janta, ir à venda comprar arroz e voltar com o troco certo.
Esse problema do troco era mesmo difícil. Juninho estava na primeira série e não era muito bom em matemática. Mesmo assim, era ele quem ia à venda. Sua irmã lhe entregava o dinheiro e já dizia o quanto ele deveria trazer de volta. “Não vá comprar balas”, dizia ela, “eu sei quanto custa o quilo do arroz e quero todo o troco de volta”. Por isso, e porque a comida nem sempre era suficiente, Juninho costumava devorar as pitangas do quintal. Então, logo depois do almoço, ele sentava debaixo da pitangueira e comia quantas pitangas conseguisse pegar, mas sempre guardava um punhado no bolso para Margarida, a vizinha da frente. Tão logo ele se acomodava no chão, chegava Carambola. Carambola era um cusco mirrado, manco de uma pata, com pelos acinzentados e embaraçados e orelhas caídas. Quando não estava com Juninho, Carambola vivia na rua, sempre procurando por comida. À noite, ele vinha para dormir debaixo da árvore onde encontrava seu amigo humano durante o dia. Juninho e Carambola eram muito amigos, tanto quanto um menino e um cusco podem ser. Inclusive, o nome Carambola foi idéia de Juninho.
Os dois já estavam sentados lá fazia um bom tempo, quando ela apareceu. Conferiu se o seu amigo estava no lugar de sempre e atravessou a rua saltitante. Ela sempre vinha saltitando. Era um ano mais nova que Juninho, mas era até mais alta que ele. Tinha longos cabelos negros, cacheados nas pontas. Sua pele era mais escura e também queimada do sol. Os olhos pareciam duas jabuticabas, escuros e profundos. Ela chegava e sentava de frente para Juninho, sempre com as pernas cruzadas como índio. Aliás, sua aparência lembrava muito uma indiazinha. Ele entregava as pitangas para Margarida e dizia:
- Tome. Guardei para você. – e ela sorria. Sorria aquele sorriso lindo que só ela tinha.
E os dois saíam para brincar. Aliás, os três, porque Carambola sempre os seguia por toda parte.

2 comentários:

UniversiJOVEM disse...

Gostei demias dessa primeira parte do conto, tão bem contado que eu enxerguei todos os personagens... hehehhehe

ótima história para se ler num domingo à noite. Quero amis, quero mais.
beijos daquela louca pela segunda parte do conto.

Anônimo disse...

ops.... ficou com o noem do universijovem.
mas fui eu.
tu sabe quem soy. eu sei q sabe.