Algumas destas interrogações são muito interessantes e me fazem parar um pouco pra pensar.
Texto de Pablo Neruda.
INTERROGAÇÕES
Onde deixou a lua cheia seu noturno saco de farinha?
Se termina o amarelo, com que faremos o pão?
Diga-me: a rosa está nua ou só tem esse vestido?
Há algo mais triste no mundo que um comboio imóvel na chuva?
É verdade que a esperança se deve regar com orvalho?
Por que se suicidam as folhas quando se sentem amarelas?
Por que choram tanto as nuvens e cada vez são mais alegres?
Que ocorre com as andorinhas que chegam tarde ao colégio?
Quantas perguntas tem um gato?
As lágrimas que não se choram esperam em pequenos lagos?
Onde estão aqueles nomes doces como tortas de outrora?Quem gritou de alegria ao nascer a cor azul?
Por que se entristece a terra quando aparecem as violetas?
Como logrou a liberdade a bicicleta abandonada?
É verdade que no formigueiro os sonhos são obrigatórios?
De que ri a melancia quando a estão assassinando?
Como se chama uma flor que voa de pássaro em pássaro?
Não é melhor nunca que tarde?
Por que vivem tão esfarrapados todos os bichos-da-seda?
Que distância em metros redondos há entre o sol e as laranjas?
E por que o sol é tão mau amigo do caminhante do deserto?
E por que o sol é tão simpático no jardim do hospital?
Não vês que floresce a macieira para morrer na maçã?
Como se chama a tristeza numa ovelha solitária?
Onde vão as coisas do sonho?Vão para o sonho dos outros?
Que pesam mais na cintura, as dores ou as lembranças?
Se todos os rios são doces, de onde tira sal o mar?
Como sabem as estações que devem mudar de camisa?
terça-feira, 29 de julho de 2008
terça-feira, 22 de julho de 2008
O lugar sou eu, rosa
Hoje, escrevo aqui do computador da Greice.
Este é um poema que a Carol e eu escrevemos (durante a aula, é claro). Sim, é um poema duplo. É uma viagem! Mas, ficou legal.
Abraços.
O lugar sou eu, rosa
Por Carolina Ferreira Rota e Raquel Amsberg de Almeida
Mar sem onda,
rosa sem perfume,
Onde foi que se perdeu,
onde?
O vazio se faz,
o escuro se achega.
Onde foi que me perdi,
onde?
É certo que existem
barreiras, onde nada
se cresce, onde nada
se faz,
Onde rosa não existe,
e o mar não é mar.
É certo que lá me encontro
e me pego a sonhar
com rosas que não existem,
com um gostoso banho de mar.
E eu, que faz tanto tempo,
tanto tempo que já não sei
mais, queria viver sorrindo,
mudando, mudando como o ar.
Viajando pelo mundo,
tocando cada flor,
e a cada curva soltando
um grito, riso de amor.
Eu que amei tanto,
e sofri em pranto,
sigo solta,
amando e amando
meu corpo não foi de
meuitos, só teu
queme deu a rosa
encantou-me,
mas feriu-me com espinhos teus.
Meu amor, que foi
todo teu, aos poucos
foi despedaçado,
ferido, quebrado.
Meu coração que
era vermelho vivo,
é cinza todo em cacos.
Agora, sou levada,
amando, amando...
Amando a solidão
e amando a multidão.
Chame de vulgaridade,
não mais depender de
quem tanto amei,
Amo, amo tanto
olho tantos olhos,
vou por caminhos,
diferentes,
lugares diferentes
e neles esperança
de encontrar
outras rosas,
outros mares
e amores.
Sou o vento,
sou a rosa,
sou o mar,
sou amor.
Este é um poema que a Carol e eu escrevemos (durante a aula, é claro). Sim, é um poema duplo. É uma viagem! Mas, ficou legal.
Abraços.
O lugar sou eu, rosa
Por Carolina Ferreira Rota e Raquel Amsberg de Almeida
Mar sem onda,
rosa sem perfume,
Onde foi que se perdeu,
onde?
O vazio se faz,
o escuro se achega.
Onde foi que me perdi,
onde?
É certo que existem
barreiras, onde nada
se cresce, onde nada
se faz,
Onde rosa não existe,
e o mar não é mar.
É certo que lá me encontro
e me pego a sonhar
com rosas que não existem,
com um gostoso banho de mar.
E eu, que faz tanto tempo,
tanto tempo que já não sei
mais, queria viver sorrindo,
mudando, mudando como o ar.
Viajando pelo mundo,
tocando cada flor,
e a cada curva soltando
um grito, riso de amor.
Eu que amei tanto,
e sofri em pranto,
sigo solta,
amando e amando
meu corpo não foi de
meuitos, só teu
queme deu a rosa
encantou-me,
mas feriu-me com espinhos teus.
Meu amor, que foi
todo teu, aos poucos
foi despedaçado,
ferido, quebrado.
Meu coração que
era vermelho vivo,
é cinza todo em cacos.
Agora, sou levada,
amando, amando...
Amando a solidão
e amando a multidão.
Chame de vulgaridade,
não mais depender de
quem tanto amei,
Amo, amo tanto
olho tantos olhos,
vou por caminhos,
diferentes,
lugares diferentes
e neles esperança
de encontrar
outras rosas,
outros mares
e amores.
Sou o vento,
sou a rosa,
sou o mar,
sou amor.
quinta-feira, 17 de julho de 2008
Coisas que eu gosto
Hoje, eu estava meio sem inspiração, então resolvi escrever algumas coisas que eu gosto. São coisinhas que me alegram. Aí vai!
Coisas que eu gosto:
> Olhar o movimento da rua
> Conversar com crianças
> Caminhar à noite
> Rir
> Ouvir Adriana Calcanhotto e cantar junto
> Um abraço
> Assistir desenho
> Conversar até não agüentar mais de sono
> Ler
> Ficar sozinha em casa
> Brincar no balanço
> Escrever
> Brincar de pega-pega
> Olhar as pessoas no trem (sempre tem alguém muito divertido...)
> Os amigos reunidos
> Rodinha de violão
> Ônibus de excursão
> Chocolate (e não vou entrar em outros detalhes culinários)
> Sentar no chão
> Andar descalça
> Fotos
> Banho de mar, piscina, cachoeira, chuva, qualquer coisa
Bem, tem muito mais coisas de onde vieram essas, mas eu vou parar por aqui.
Coisas que eu gosto:
> Olhar o movimento da rua
> Conversar com crianças
> Caminhar à noite
> Rir
> Ouvir Adriana Calcanhotto e cantar junto
> Um abraço
> Assistir desenho
> Conversar até não agüentar mais de sono
> Ler
> Ficar sozinha em casa
> Brincar no balanço
> Escrever
> Brincar de pega-pega
> Olhar as pessoas no trem (sempre tem alguém muito divertido...)
> Os amigos reunidos
> Rodinha de violão
> Ônibus de excursão
> Chocolate (e não vou entrar em outros detalhes culinários)
> Sentar no chão
> Andar descalça
> Fotos
> Banho de mar, piscina, cachoeira, chuva, qualquer coisa
Bem, tem muito mais coisas de onde vieram essas, mas eu vou parar por aqui.
segunda-feira, 14 de julho de 2008
O estagiário
Boa noite, gente boa.
Antes de tudo, quero retificar a autoria do texto "Morre lentamente", postado no dia 12 de maio. Hoje, entrei no blog da Martha Medeiros e descobri que o texto é dela e que há muito circula pela internet como sendo do Pablo Neruda. Também, o título é outro: A Morte Devagar.
Agora, mais um texto de minha autoria.
Abraços.
O ESTAGIÁRIO
A porta do escritório abriu tão rapidamente que o estrondo que fez quando bateu na parede pode ser escutado em toda a agência. Está certo que não era uma agência muito grande, mas todo mundo ouviu. O chefe entrou gritando:
- Carlos! O que significa isto? – Ao terminar a frase, voou para cima da mesa de Carlos a Zero Hora de domingo, aberta na página onde estava o anúncio feito por ele, o estagiário.
Carlos segurou aquelas preciosas (e caras) folhas com ambas as mãos. Subiu um frio pela espinha quando ele viu: o valor estava errado!
- E sabe quem vai ter que pagar por isto? – continuou o enfurecido chefe, com o rosto rubro e as veias salientes – EU! Você sabe quanto me custou este anúncio? Sabe? – Esta era uma daquelas perguntas retóricas que as pessoas que exercem alguma autoridade adoram fazer.
- Não sei, não, senhor? – Respondeu ingenuamente o estagiário. Mas, a resposta foi apenas:
- Isto não pode mais acontecer, Carlos. Isto não pode mais acontecer.
- Não, senhor. – Disse ele cabisbaixo.
- E não vai. Carlos, quero sua mesa limpa até às 18h.
Ele não tinha como argumentar. Cometera uma falta gravíssima. Apenas assentiu com a cabeça e ficou parado enquanto o ex-chefe saía.
A estória é bastante exagerada, mas tenho a impressão de que não está tão fora da realidade assim. Como disse o David Coimbra, as pessoas querem tolerância zero, e é o que elas recebem. A gente não perdoa uma falha alheia, principalmente quando se trata de relações profissionais (seja como colega de trabalho ou cliente). A gente liga para as empresas e reclama de não falar com seres humanos, se irrita com as mensagens gravadas, mas trata os funcionários como máquinas, sem tolerar erros. Agora, quando somos nós que cometemos o erro, nos justificamos: errar é humano!
Mais sobre intolerância no blog do David Coimbra (copie e cole): http://www.clicrbs.com.br/blog/jsp/default.jsp?source=DYNAMIC,blog.BlogDataServer,getBlog&uf=1&local=1&template=3948.dwt§ion=Blogs&post=82794&blog=219&coldir=1&topo=3994.dwt
Antes de tudo, quero retificar a autoria do texto "Morre lentamente", postado no dia 12 de maio. Hoje, entrei no blog da Martha Medeiros e descobri que o texto é dela e que há muito circula pela internet como sendo do Pablo Neruda. Também, o título é outro: A Morte Devagar.
Agora, mais um texto de minha autoria.
Abraços.
O ESTAGIÁRIO
A porta do escritório abriu tão rapidamente que o estrondo que fez quando bateu na parede pode ser escutado em toda a agência. Está certo que não era uma agência muito grande, mas todo mundo ouviu. O chefe entrou gritando:
- Carlos! O que significa isto? – Ao terminar a frase, voou para cima da mesa de Carlos a Zero Hora de domingo, aberta na página onde estava o anúncio feito por ele, o estagiário.
Carlos segurou aquelas preciosas (e caras) folhas com ambas as mãos. Subiu um frio pela espinha quando ele viu: o valor estava errado!
- E sabe quem vai ter que pagar por isto? – continuou o enfurecido chefe, com o rosto rubro e as veias salientes – EU! Você sabe quanto me custou este anúncio? Sabe? – Esta era uma daquelas perguntas retóricas que as pessoas que exercem alguma autoridade adoram fazer.
- Não sei, não, senhor? – Respondeu ingenuamente o estagiário. Mas, a resposta foi apenas:
- Isto não pode mais acontecer, Carlos. Isto não pode mais acontecer.
- Não, senhor. – Disse ele cabisbaixo.
- E não vai. Carlos, quero sua mesa limpa até às 18h.
Ele não tinha como argumentar. Cometera uma falta gravíssima. Apenas assentiu com a cabeça e ficou parado enquanto o ex-chefe saía.
A estória é bastante exagerada, mas tenho a impressão de que não está tão fora da realidade assim. Como disse o David Coimbra, as pessoas querem tolerância zero, e é o que elas recebem. A gente não perdoa uma falha alheia, principalmente quando se trata de relações profissionais (seja como colega de trabalho ou cliente). A gente liga para as empresas e reclama de não falar com seres humanos, se irrita com as mensagens gravadas, mas trata os funcionários como máquinas, sem tolerar erros. Agora, quando somos nós que cometemos o erro, nos justificamos: errar é humano!
Mais sobre intolerância no blog do David Coimbra (copie e cole): http://www.clicrbs.com.br/blog/jsp/default.jsp?source=DYNAMIC,blog.BlogDataServer,getBlog&uf=1&local=1&template=3948.dwt§ion=Blogs&post=82794&blog=219&coldir=1&topo=3994.dwt
quinta-feira, 10 de julho de 2008
O menino que comia pitangas - Última parte
Boa tarde!
Chegamos ao final da história. É um post grande, mas é o final. Vale à pena.
Espero que tenham gostado.
Beijos
O sábado amanheceu escuro. Nuvens pretas tapavam o céu até onde se podia ver. Juninho podia dormir até mais tarde no sábado, mas ele não conseguia mais pegar no sono. Por fim, levantou-se e encontrou sua mãe na cozinha, passando café.
- Bom dia, Juninho. Por que está de pé tão cedo num sábado? Sabe que hoje é sábado, né? – ouviu a mãe dizer.
- Sim, mamãe. Mas eu não consigo dormir. – respondeu. A mãe serviu uma xícara de café para ele. Ele colocou açúcar e ficou um tempo misturando o café. A mãe notou sua preocupação.
- O que aconteceu? – perguntou.
- Eu não sei. Faz quatro dias que a Margarida não vai à escola. – ele disse isto mais para si mesmo do que para a mãe.
- Esta menina deve estar com algum problema. Você já tinha me dito que ela estava estranha e quieta e que tinha chorado outro dia. O que houve com ela? – indagou a mãe. Juninho engoliu o choro e não respondeu, apenas balançou a cabeça em sinal negativo.
Do lado de fora, ouviu-se um caminhão estacionar. Juninho disparou para a janela para ver o que estava acontecendo. A mãe de Margarida estava de pé na porta de casa e conversava com o motorista do caminhão que havia descido do veículo. Ele assentiu com a cabeça e seguiu a mulher triste para dentro de casa. Juninho continuou com o rosto grudado no vidro, o embaçando com a respiração, limpando com a manga do casaco e repetindo o processo muitas vezes.
Passou algum tempo até que o motorista saísse da casa. Ele trazia uma caixa de papelão no ombro que colocou dentro do caminhão. Parecia pesada. Voltou para dentro da casa e, logo, saiu com outra caixa. Ele passou aproximadamente meia hora colocando caixas no caminhão. O moço sentado no banco do passageiro fazia algumas anotações num caderno. Assim que não havia mais caixas, o senhor gordo e careca chamou o rapaz, que prontamente fechou o caderno e o seguiu. Juninho viu os móveis mais importantes da casa serem colocados no caminhão. Duas camas, sofá, gaveteiro, fogão, geladeira, algumas cadeiras e uma mesa. Por fim, veio uma mesinha, seguida de uma televisão pequena e antiga. O caminhão partiu. Juninho continuava na janela, observando tudo.
Fazia mais de uma hora que a mãe de Margarida tinha voltado para dentro de casa, fechando a porta atrás de si. Juninho não desgrudava os olhos da casa da frente. Sua mãe o chamou para almoçar. Ele esperou mais alguns minutos, mas, depois, foi.
Durante o almoço, Juninho notou uma movimentação na casa da amiga. Correu para a janela e viu que as duas mulheres saíam da casa com malas. Elas estavam vindo na direção da casa dele. Bateram na porta. Ele correu para atender.
- Olá, Juninho. Sua mãe está em casa? – perguntou a senhora, segurando a mão da filha. As malas estavam largadas no chão, ao pé delas. A mãe dele apareceu à porta.
- Tudo bem, Claudete? – disse ela, com ar de preocupação.
- Nós estamos nos mudando para outra cidade. – respondeu a vizinha. – Só vim despedir-me e agradecer por tudo.
Juninho olhou para Margarida. Ela fitava os próprios pés. Ele saiu da casa e foi até a pitangueira. Começou a pegar as frutinhas maduras e, logo, percebeu a presença da menina. Ela estendeu-lhe uma folha de papel. Seus olhos estavam rasos de lágrimas. Ele pegou o papel e lhe entregou as pitangas. Junto com as pitangas, deu-lhe uma flor branquinha, a mais bonita que tinha colhido no dia anterior para esperá-la debaixo da árvore. Ela aceitou o presente e ouviu sua mãe chamá-la. Estavam prontas para partir. Ela olhou fundo nos olhos dele. Juninho viu que ela não era mais a mesma criança com quem brincava. Ela não era mais criança.
- Adeus! – Foi a única coisa que disse. Ele não conseguia responder. Um nó havia se instalado na sua garganta e não o deixava pronunciar uma palavra sequer.
Ela o abraçou e, depois, virou-se e encontrou-se com a mãe. O carro do tio as aguardava encostado na frente da casa. Carambola a estava seguindo. Ela alisou os pelos da cabeça dele pela última vez. Juninho estava ao lado da sua mãe, emoldurado pela porta aberta. As duas adultas, mãe e filha, entraram no carro. Margarida ficou olhando Juninho através da janela fechada. A chuva começava a cair. As lágrimas igualmente rolavam dos olhos de Juninho e Margarida.
O carro partiu. Partiu-se também o coração de Juninho. Nunca havia sentido uma dor tão forte lhe oprimindo o peito. Sua mãe o puxou para junto de si e os dois viram o carro seguir até o fim da rua. Juninho desdobrou a folha que ganhara. Nela, estava desenhada, em traços infantis, uma flor branca de miolo amarelo. Era a única foto que ele tinha da amiga. A chuva estava mais forte, assim como as lágrimas do menino. Ela partira. Uma mulher partira. A menina com quem brincava havia-se perdido em algum lugar naquela escola.
Chegamos ao final da história. É um post grande, mas é o final. Vale à pena.
Espero que tenham gostado.
Beijos
O sábado amanheceu escuro. Nuvens pretas tapavam o céu até onde se podia ver. Juninho podia dormir até mais tarde no sábado, mas ele não conseguia mais pegar no sono. Por fim, levantou-se e encontrou sua mãe na cozinha, passando café.
- Bom dia, Juninho. Por que está de pé tão cedo num sábado? Sabe que hoje é sábado, né? – ouviu a mãe dizer.
- Sim, mamãe. Mas eu não consigo dormir. – respondeu. A mãe serviu uma xícara de café para ele. Ele colocou açúcar e ficou um tempo misturando o café. A mãe notou sua preocupação.
- O que aconteceu? – perguntou.
- Eu não sei. Faz quatro dias que a Margarida não vai à escola. – ele disse isto mais para si mesmo do que para a mãe.
- Esta menina deve estar com algum problema. Você já tinha me dito que ela estava estranha e quieta e que tinha chorado outro dia. O que houve com ela? – indagou a mãe. Juninho engoliu o choro e não respondeu, apenas balançou a cabeça em sinal negativo.
Do lado de fora, ouviu-se um caminhão estacionar. Juninho disparou para a janela para ver o que estava acontecendo. A mãe de Margarida estava de pé na porta de casa e conversava com o motorista do caminhão que havia descido do veículo. Ele assentiu com a cabeça e seguiu a mulher triste para dentro de casa. Juninho continuou com o rosto grudado no vidro, o embaçando com a respiração, limpando com a manga do casaco e repetindo o processo muitas vezes.
Passou algum tempo até que o motorista saísse da casa. Ele trazia uma caixa de papelão no ombro que colocou dentro do caminhão. Parecia pesada. Voltou para dentro da casa e, logo, saiu com outra caixa. Ele passou aproximadamente meia hora colocando caixas no caminhão. O moço sentado no banco do passageiro fazia algumas anotações num caderno. Assim que não havia mais caixas, o senhor gordo e careca chamou o rapaz, que prontamente fechou o caderno e o seguiu. Juninho viu os móveis mais importantes da casa serem colocados no caminhão. Duas camas, sofá, gaveteiro, fogão, geladeira, algumas cadeiras e uma mesa. Por fim, veio uma mesinha, seguida de uma televisão pequena e antiga. O caminhão partiu. Juninho continuava na janela, observando tudo.
Fazia mais de uma hora que a mãe de Margarida tinha voltado para dentro de casa, fechando a porta atrás de si. Juninho não desgrudava os olhos da casa da frente. Sua mãe o chamou para almoçar. Ele esperou mais alguns minutos, mas, depois, foi.
Durante o almoço, Juninho notou uma movimentação na casa da amiga. Correu para a janela e viu que as duas mulheres saíam da casa com malas. Elas estavam vindo na direção da casa dele. Bateram na porta. Ele correu para atender.
- Olá, Juninho. Sua mãe está em casa? – perguntou a senhora, segurando a mão da filha. As malas estavam largadas no chão, ao pé delas. A mãe dele apareceu à porta.
- Tudo bem, Claudete? – disse ela, com ar de preocupação.
- Nós estamos nos mudando para outra cidade. – respondeu a vizinha. – Só vim despedir-me e agradecer por tudo.
Juninho olhou para Margarida. Ela fitava os próprios pés. Ele saiu da casa e foi até a pitangueira. Começou a pegar as frutinhas maduras e, logo, percebeu a presença da menina. Ela estendeu-lhe uma folha de papel. Seus olhos estavam rasos de lágrimas. Ele pegou o papel e lhe entregou as pitangas. Junto com as pitangas, deu-lhe uma flor branquinha, a mais bonita que tinha colhido no dia anterior para esperá-la debaixo da árvore. Ela aceitou o presente e ouviu sua mãe chamá-la. Estavam prontas para partir. Ela olhou fundo nos olhos dele. Juninho viu que ela não era mais a mesma criança com quem brincava. Ela não era mais criança.
- Adeus! – Foi a única coisa que disse. Ele não conseguia responder. Um nó havia se instalado na sua garganta e não o deixava pronunciar uma palavra sequer.
Ela o abraçou e, depois, virou-se e encontrou-se com a mãe. O carro do tio as aguardava encostado na frente da casa. Carambola a estava seguindo. Ela alisou os pelos da cabeça dele pela última vez. Juninho estava ao lado da sua mãe, emoldurado pela porta aberta. As duas adultas, mãe e filha, entraram no carro. Margarida ficou olhando Juninho através da janela fechada. A chuva começava a cair. As lágrimas igualmente rolavam dos olhos de Juninho e Margarida.
O carro partiu. Partiu-se também o coração de Juninho. Nunca havia sentido uma dor tão forte lhe oprimindo o peito. Sua mãe o puxou para junto de si e os dois viram o carro seguir até o fim da rua. Juninho desdobrou a folha que ganhara. Nela, estava desenhada, em traços infantis, uma flor branca de miolo amarelo. Era a única foto que ele tinha da amiga. A chuva estava mais forte, assim como as lágrimas do menino. Ela partira. Uma mulher partira. A menina com quem brincava havia-se perdido em algum lugar naquela escola.
terça-feira, 8 de julho de 2008
Briga de criança
Lembro muito de um amigo que eu tinha quando era criança. Ele era uns três anos mais novo, e eu estava naquela idade de me achar super madura (fase que, aliás, durou muito tempo). Eu era um tanto “esquentadinha” e, como toda boa alemoa, era teimosa. Esse meu amigo morava no mesmo prédio que eu. Todo dia, a gente batia na porta um do outro e passava horas brincando.
De vez em sempre, a gente acabava brigando por alguma bobagem, uma dessas coisas de criança. A gente discutia, xingava, batia e até chorava! Tudo por causa de uma coisinha de nada, tão insignificante que eu nem me lembro mais. Daí, cada um ia para sua casa, emburrado, e contava tudo para a mãe. Acho que minha mãe nunca levou muito a sério estas briguinhas. Estava certa. Dali a uns 5 ou 10 minutos, tocava a campainha. Era o vizinho chamando pra brincar. E eu ia. Às vezes, era eu que descia as escadas e tocava no apartamento dele. Mas, tanto fazia quem tomava a iniciativa, a gente brincava como se nada tivesse acontecido.
Eu vejo isso acontecer muito com as crianças. Por alguns minutos, aquela pessoa se torna sua pior inimiga. A criança não quer falar com a outra nunca mais. Mas, como criança não tem noção de tempo, o “nunca mais” termina logo. Ainda bem, porque criança briga bastante. Só que eu não vejo isso acontecer com gente grande. Os adultos demoram mais pra brigar, mas não conseguem esquecer as coisas. Demoram pra perdoar, esquecer.
Esse perdão que as crianças conseguem dar me parece a forma mais pura de perdão. Elas ficam realmente bravas e revoltadas com a situação, mas conseguem perdoar e esquecer. Os adultos (e incluem-se também os adolescentes) têm uma coisa que as crianças não têm (e que não faz nenhuma falta): ORGULHO, aquele orgulho que não nos deixa perdoar de verdade, esquecer que a outra pessoa fez algo que nos desagradou, nos machucou. Parece que a gente vai perder alguma coisa se desculpar o outro, quando, na verdade, acontece justamente o contrário. Podem ver como as crianças logo estão brincando alegres de novo, depois de esquecer aconteceu.
Acredito que a gente tenha muito que aprender com as crianças. A gente vai crescendo e perdendo aquela simplicidade e humildade. Aí está uma coisa que os adultos podiam perder: esse orgulho ruim.
De vez em sempre, a gente acabava brigando por alguma bobagem, uma dessas coisas de criança. A gente discutia, xingava, batia e até chorava! Tudo por causa de uma coisinha de nada, tão insignificante que eu nem me lembro mais. Daí, cada um ia para sua casa, emburrado, e contava tudo para a mãe. Acho que minha mãe nunca levou muito a sério estas briguinhas. Estava certa. Dali a uns 5 ou 10 minutos, tocava a campainha. Era o vizinho chamando pra brincar. E eu ia. Às vezes, era eu que descia as escadas e tocava no apartamento dele. Mas, tanto fazia quem tomava a iniciativa, a gente brincava como se nada tivesse acontecido.
Eu vejo isso acontecer muito com as crianças. Por alguns minutos, aquela pessoa se torna sua pior inimiga. A criança não quer falar com a outra nunca mais. Mas, como criança não tem noção de tempo, o “nunca mais” termina logo. Ainda bem, porque criança briga bastante. Só que eu não vejo isso acontecer com gente grande. Os adultos demoram mais pra brigar, mas não conseguem esquecer as coisas. Demoram pra perdoar, esquecer.
Esse perdão que as crianças conseguem dar me parece a forma mais pura de perdão. Elas ficam realmente bravas e revoltadas com a situação, mas conseguem perdoar e esquecer. Os adultos (e incluem-se também os adolescentes) têm uma coisa que as crianças não têm (e que não faz nenhuma falta): ORGULHO, aquele orgulho que não nos deixa perdoar de verdade, esquecer que a outra pessoa fez algo que nos desagradou, nos machucou. Parece que a gente vai perder alguma coisa se desculpar o outro, quando, na verdade, acontece justamente o contrário. Podem ver como as crianças logo estão brincando alegres de novo, depois de esquecer aconteceu.
Acredito que a gente tenha muito que aprender com as crianças. A gente vai crescendo e perdendo aquela simplicidade e humildade. Aí está uma coisa que os adultos podiam perder: esse orgulho ruim.
quinta-feira, 3 de julho de 2008
O menino que comia pitangas - Parte VIII
Os dias passavam e Juninho sentia-se sozinho na escola. Os meninos direcionavam as brincadeiras de mau-gosto só para ele, agora. Isto não o incomodava tanto, pois sabia que, se as crianças falava isto para ele, queria dizer que não o falavam para Margarida. Ele passava o recreio se balançando, com a esperança de ver a amiga chegar a qualquer momento. Olhava para os lados, procurava entre os colegas, mas não a encontrava. À tarde, ele não falava sobre isso com ela, porque sabia que ela voltaria a ter aquele olhar perdido que o perturbava.
Com o tempo, Juninho notou que Margarida sorria menos. Ela aparecia na porta de casa todas as tardes, encontrava o vizinho com o olhar e sorria rapidamente. Depois, vinha caminhando na direção dele. Sentava-se na frente dele, sem sorriso nenhum. Ele lhe oferecia as pitangas e ela sorria um pouco, mas logo voltava à sua figura melancólica.
Ele tinha medo de perguntar o que estava acontecendo com ela, pois sabia que ela retomaria aquele olhar vazio, perdido, pensativo. Tentava alegrá-la de todas as maneiras que podia. Dava-lhe mais pitangas do que antes, escolhia só as brincadeiras que ela gostava, não se irritava com coisas pequenas e trazia as flores que tinham seu nome com mais freqüência. Ela gostava muito das flores e sorria um pouco mais nos dias que ganhava.
Na escola, tudo continuava igual. Ele já estava se acostumando a brincar sozinho outra vez. Até que, num dia frio e chuvoso, ela começou a chorar no caminho de volta para casa. Ele não sabia o que fazer. As lágrimas lhe escorriam do rosto uma atrás da outra, sem parar, e ele tinha vontade de fazer o mesmo. Nunca a tinha visto chorar. Não daquele jeito. Às vezes ela chorava um pouco quando caía e se machucava, mas era só um pouco. Agora, ela não parava de chorar e ele não sabia onde estava doendo para olhar e poder dizer que tinha um machucado igual e que não demoraria a curar. Num impulso, passou o braço sobre os ombros dela e continuou andando, sem falar nada. Neste momento, ele sentiu que era o coração dela que doía. E doía muito. Eles andaram assim até chegarem em casa.
Naquela tarde, Juninho esperou por ela debaixo da árvore, com as pitangas no bolso da calça. Ela chegou um pouco mais tarde do que de costume. Não chorava mais, mas seus olhos estavam vermelhos. O jardim bonito da casa do outro bairro era muito longe para aquele dia frio, então, ele levou-a para ver as flores do beco da ruela ali perto. Ela olhou para as flores e sorriu. Ele pegou uma flor, a mais bonita, e colocou na mão dela. Ela sorriu outra vez, mas logo seu sorriso desapareceu e seu olhar perdeu-se na flor. Não estava mais ali. Sua mente estava distante outra vez.
No dia seguinte, Juninho esperou a amiga para irem juntos à escola. Ela estava demorando muito para aparecer. Foi até a porta da casa dela e bateu. Foi a mãe de Margarida quem atendeu.
- A Margarida está em casa? – perguntou o menino.
- Está, sim. Mas ela se recusa a ir à aula hoje. – respondeu a viúva baixa de olhos escuros e cabelo amarrado num coque. – Não entendo por que. – completou.
Ele não respondeu. Não sabia o que dizer, na verdade. A mulher disse-lhe para ir para a escola e avisar a professora que Margarida faltaria à aula. Ele fez o que ela pediu.
A cena repetiu-se no dia seguinte e no outro e no dia depois deste. Todo este tempo, Margarida não saiu de casa. Todas as tardes, ele a esperou debaixo da árvore, mas ela não apareceu.
Com o tempo, Juninho notou que Margarida sorria menos. Ela aparecia na porta de casa todas as tardes, encontrava o vizinho com o olhar e sorria rapidamente. Depois, vinha caminhando na direção dele. Sentava-se na frente dele, sem sorriso nenhum. Ele lhe oferecia as pitangas e ela sorria um pouco, mas logo voltava à sua figura melancólica.
Ele tinha medo de perguntar o que estava acontecendo com ela, pois sabia que ela retomaria aquele olhar vazio, perdido, pensativo. Tentava alegrá-la de todas as maneiras que podia. Dava-lhe mais pitangas do que antes, escolhia só as brincadeiras que ela gostava, não se irritava com coisas pequenas e trazia as flores que tinham seu nome com mais freqüência. Ela gostava muito das flores e sorria um pouco mais nos dias que ganhava.
Na escola, tudo continuava igual. Ele já estava se acostumando a brincar sozinho outra vez. Até que, num dia frio e chuvoso, ela começou a chorar no caminho de volta para casa. Ele não sabia o que fazer. As lágrimas lhe escorriam do rosto uma atrás da outra, sem parar, e ele tinha vontade de fazer o mesmo. Nunca a tinha visto chorar. Não daquele jeito. Às vezes ela chorava um pouco quando caía e se machucava, mas era só um pouco. Agora, ela não parava de chorar e ele não sabia onde estava doendo para olhar e poder dizer que tinha um machucado igual e que não demoraria a curar. Num impulso, passou o braço sobre os ombros dela e continuou andando, sem falar nada. Neste momento, ele sentiu que era o coração dela que doía. E doía muito. Eles andaram assim até chegarem em casa.
Naquela tarde, Juninho esperou por ela debaixo da árvore, com as pitangas no bolso da calça. Ela chegou um pouco mais tarde do que de costume. Não chorava mais, mas seus olhos estavam vermelhos. O jardim bonito da casa do outro bairro era muito longe para aquele dia frio, então, ele levou-a para ver as flores do beco da ruela ali perto. Ela olhou para as flores e sorriu. Ele pegou uma flor, a mais bonita, e colocou na mão dela. Ela sorriu outra vez, mas logo seu sorriso desapareceu e seu olhar perdeu-se na flor. Não estava mais ali. Sua mente estava distante outra vez.
No dia seguinte, Juninho esperou a amiga para irem juntos à escola. Ela estava demorando muito para aparecer. Foi até a porta da casa dela e bateu. Foi a mãe de Margarida quem atendeu.
- A Margarida está em casa? – perguntou o menino.
- Está, sim. Mas ela se recusa a ir à aula hoje. – respondeu a viúva baixa de olhos escuros e cabelo amarrado num coque. – Não entendo por que. – completou.
Ele não respondeu. Não sabia o que dizer, na verdade. A mulher disse-lhe para ir para a escola e avisar a professora que Margarida faltaria à aula. Ele fez o que ela pediu.
A cena repetiu-se no dia seguinte e no outro e no dia depois deste. Todo este tempo, Margarida não saiu de casa. Todas as tardes, ele a esperou debaixo da árvore, mas ela não apareceu.
quarta-feira, 2 de julho de 2008
Tempo para estar só
Enfim, férias! Depois de toda a correria de final de semestre, agora eu posso descansar um pouco, até as aulas começarem novamente, em agosto. Segunda-feira, eu pensei: “Eu estou de férias... bem que eu podia fazer alguma coisa diferente. Eu tenho a noite inteira livre pra fazer o que eu quiser.” Que sensação boa! Daí, eu decidi ir ao cinema.
Desci do ônibus e comecei minha caminhada até o cinema. Encontrei dois amigos no trajeto, e os dois me perguntaram onde eu estava indo. Quando eu disse que ia ao cinema sozinha senti um certo estranhamento. Será que é tão estranho ir sozinha ao cinema? Afinal, qual é o problema? Bem, pode ter sido só coisa da minha cabeça.
Cheguei lá e fui escolher o filme. Uma tarefa fácil, considerando que eu não precisava discutir a decisão com ninguém. Além disso, já fazia uns dois ou três meses que eu não ia ao cinema, ou seja, qualquer filme que estivesse em cartaz eu ainda não tinha assistido.
Não precisei pensar muito, a solução estava diante dos meus olhos. Para uma garota sozinha numa segunda à noite, que filme melhor do que “Sex and the City”? Caiu como uma luva.
Então, fui assistir a história daquelas quatro mulheres de Nova Iorque. E por duas horas e meia consegui fugir um pouco da realidade e me envolver naquele enredo feminino. Com certeza, a gente se identifica com algumas coisas que acontecem.
No fim das contas, foi uma experiência muito boa. Apesar de ver casais e grupos de amigos no cinema, não me senti mal de estar sozinha. Na verdade, me senti muito bem. Acho que todo mundo deveria fazer algo assim de vez em quando. Sabe, passar um tempo consigo mesmo, decidindo o que EU quero fazer hoje, o que EU vou comer, que filme EU vou assistir. Depois, a gente volta pro mundo real bem mais tranqüilo. Bem, fica a dica. Eu aconselho. Por experiência própria.
Desci do ônibus e comecei minha caminhada até o cinema. Encontrei dois amigos no trajeto, e os dois me perguntaram onde eu estava indo. Quando eu disse que ia ao cinema sozinha senti um certo estranhamento. Será que é tão estranho ir sozinha ao cinema? Afinal, qual é o problema? Bem, pode ter sido só coisa da minha cabeça.
Cheguei lá e fui escolher o filme. Uma tarefa fácil, considerando que eu não precisava discutir a decisão com ninguém. Além disso, já fazia uns dois ou três meses que eu não ia ao cinema, ou seja, qualquer filme que estivesse em cartaz eu ainda não tinha assistido.
Não precisei pensar muito, a solução estava diante dos meus olhos. Para uma garota sozinha numa segunda à noite, que filme melhor do que “Sex and the City”? Caiu como uma luva.
Então, fui assistir a história daquelas quatro mulheres de Nova Iorque. E por duas horas e meia consegui fugir um pouco da realidade e me envolver naquele enredo feminino. Com certeza, a gente se identifica com algumas coisas que acontecem.
No fim das contas, foi uma experiência muito boa. Apesar de ver casais e grupos de amigos no cinema, não me senti mal de estar sozinha. Na verdade, me senti muito bem. Acho que todo mundo deveria fazer algo assim de vez em quando. Sabe, passar um tempo consigo mesmo, decidindo o que EU quero fazer hoje, o que EU vou comer, que filme EU vou assistir. Depois, a gente volta pro mundo real bem mais tranqüilo. Bem, fica a dica. Eu aconselho. Por experiência própria.
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