sexta-feira, 27 de junho de 2008

O tempo que não existe


Hoje é meu aniversário (pra quem ainda não sabe). Já estou fazendo 20 anos, mas eu não me sinto com 20 anos. Daí, eu paro pra pensar e vejo que a idade não depende do dia que a gente nasceu. Está mais na cabeça. E eu começo a pensar sobre o tempo.
Não é que a aula não estivesse interessante aquele dia, mas a "conversa paralela" estava bem mais. Conversa vai, conversa vem, o Thiago larga esta:
- Qual é o tamanho do presente?
E aí, todo mundo parou pra pensar, mas ninguém sabia responder.
Pô, qual é o tamanho do presente?! O que eu disse a um segundo atrás já é passado e o que eu vou dizer daqui a um segundo, ou até menos que isso, ainda está no futuro. Então, O PRESENTE NÃO EXISTE! Simplesmente não existe. E isso causa uma confusão tão grande que a gente começa a pensar: "o que é o tempo?"

Beijos a todos!

quinta-feira, 26 de junho de 2008

O menino que comia pitangas - Parte VII

No dia seguinte, viu a mãe sentada ao lado dele na cama. Ele mediu a febre dele e disse que ele não poderia ir à escola naquele dia.
- Mas a Margarida não pode ir sozinha! – argumentou.
- Se é esta sua preocupação, a Amélia leva ela até a escola hoje. – respondeu a mãe.
Juninho estava um pouco mais tranqüilo, mas não gostava da idéia de deixar a amiga sozinha com aquelas crianças que os insultavam. Teve de se conformar. Não conseguia sair da cama.
À tarde, recebeu a visita da amiga e sua mãe. As duas eram muito parecidas e tinham um sorriso que nunca se apagava. Juninho não saberia dizer se ela era também parecida com o pai, pois sabia que ela não tinha chegado a conhecê-lo. Ele havia falecido pouco tempo antes de ela nascer. Eles conversaram sobre a escola e cantaram o samba-enredo que tinham aprendido uns dias atrás. Elas não puderam ficar muito tempo, porque Amélia disse que o irmão estava muito fraco ainda. Mal elas saíram do quarto, Juninho pegou no sono outra vez.
Aos poucos, Juninho foi melhorando. Ficou mais de uma semana sem ir à aula. Todo este tempo, Amélia se encarregou de levar Margarida até a escola, apenas para tranqüilizar o irmão doente.
Enfim, pode voltar à escola. O dia estava nublado e cinzento. Soprava um vento frio que bagunçava o cabelo de Margarida. Ele notou que a amiga estava mais quieta. “Deve ser o frio”, pensou.
No intervalo, ele a esperou perto dos balanços da pracinha, mas ela não foi o encontrar. Isto se repetiu por alguns dias, sem que Juninho encontrasse uma explicação. Chegou a contar o fato para a irmã, mas ela tentou acalmá-lo dizendo que ela devia estar apenas conhecendo outras amigas na escola. Explicou que isto era uma coisa normal e que ele teria que se acostumar.
Juninho não acreditou na história da irmã. Todos os dias, ele via todas as crianças da turma de Margarida brincando no pátio da escola, mas ela não estava lá. Ele quis saber por que ela não brincava mais com ele no intervalo, mas ela não respondeu. Só disse que não podia mais brincar com ele na escola. Pediu desculpas e mudou de assunto.
Era difícil de entender. Eles sempre tinham sido muito amigos, por que, agora, ela não podia mais brincar com ele no recreio? Ele esperou pacientemente tanto tempo para ter companhia na escola e ela não podia brincar. Era incompreensível. Ele tentou afastar estes pensamentos e inventar uma brincadeira para aquela tarde nublada. Carambola estava deitado ao lado deles ouvindo a conversa e sendo afagado pela mão da menina. O olhar dela estava distante. Ela olhava o cachorro, mas não o via realmente. Juninho sentiu-se culpado por isso e chamou-a para brincar na rua. Neste momento, ela voltou à realidade e sorriu para ele. Então, eles se divertiram o resto do dia.

sexta-feira, 20 de junho de 2008

O menino que comia pitangas - Parte VI

O dia amanheceu muito claro. Juninho estava animado para o seu primeiro dia de aula do ano. Este ano, ele não andaria mais sozinho. Este ano, ele teria uma amiga para brincar no recreio. Arrumou-se ligeiro, pois estava ansioso para encontrar a amiga. Esperou-a na frente do portão com sua mochila vermelha. Ele era o único dos cinco irmãos que estudava na escola do bairro. Todos os outros estudavam no bairro vizinho. Mas, agora, Margarida o acompanharia todos os dias até a escola.
Ela apareceu com seus sapatos cor-de-rosa e com uma presilha de flor na cabeleira negra. Ela carregava uma mochila marrom com um laço de fita xadrez na alça. Estava claramente feliz com o seu primeiro dia de aula. Juninho faria de tudo para aquele ser um dia inesquecível.
Chegaram à escola bastante adiantados. Quase não havia crianças no pátio. Ele mostrou os brinquedos da pracinha e apontou a janela da sua sala de aula. Provavelmente, aquela seria a sala de Margarida este ano, mas ele disse que era a sua sala. Mostrou onde ele tinha caído uma vez e ganhado uma cicatriz rosada no joelho. O fim da expedição coincidiu com o sinal de início da manhã de estudos. Cada um foi encontrar sua turma e voltariam a se falar no recreio, perto dos balanços.
Pela primeira vez, Juninho não passou o recreio sozinho. Como estava feliz! Nem se importava com alguns insultos que, por vezes, as outras crianças lhe dirigiam. Ele tinha uma amiguinha com quem brincar.
Os insultos que ele recebia começaram a ser dirigidos a Margarida também. Ele ficava irritado, mas Margarida não se deixava abalar. Não se importava e parecia nem ouvir o que as crianças falavam.
Os dois iam à escola e voltavam dela juntos. Todos os dias, sem exceção. Todas as tardes, os dois brincavam juntos debaixo da pitangueira. Comiam pitangas e alisavam o pelo de Carambola.
As chuvas estavam começando. Mesmo assim, Juninho sentava debaixo da pitangueira para esperar Margarida. Amélia dizia para ele sair de lá, quando o via, mas ele não obedecia. Preferia esperar por Margarida.
A chuva estava mais forte naquele dia. Juninho sentou-se debaixo da árvore e esperou pela amiga. Esperou com Carambola por muito tempo, mas ela não apareceu. Amélia insistiu para que ele entrasse em casa, mas ele não queria sair de lá. Amélia ameaçou contar para a mãe, então Juninho teve que se render aos pedidos dela. A chuva caia copiosamente do outro lado da janela. Juninho encostou o rosto na janela da sala e ficou ali, esperando por Margarida. A porta da casa da frente não se abriu.
Estava quase desistindo, seus irmãos o chamavam para brincar no quarto, quando ele avistou a amiga. Não estava na porta como de costume. Vinha de mão dada com sua mãe pela rua, debaixo de um guarda-chuva preto rasgado. Vinham caminhando rapidamente, tentando desviar das goteiras formadas pelas pontas de telhados. Margarida olhou para a casa dele e o viu na janela. Ele limpou o vidro embaçado com a manga do casaco de lã e viu quando ela acenou e sorriu para ele. Ele sorriu e acenou de volta. Sua mãe a puxou pela mão para dentro da casa, fugindo da chuva grossa. Juninho finalmente saiu da janela.
- Vá tomar um banho, Juninho! – Era a voz de Amélia. Ela estava na cozinha começando a cozinhar o jantar. Juninho virou-se, pegou uma roupa no quarto e entrou no banheiro.
Saiu do banho na hora de arrumar a mesa para o jantar. Via-se que não estava sentindo-se bem. O nariz escorria, os olhos insistiam em fechar e os ombros estavam arcados para frente. A tosse começava devagar. Amélia foi logo repreendê-lo:
- Eu te disse pra não ficar debaixo daquela árvore na chuva. Por que você não entrou quando eu te pedi? – mas a voz dela parecia distante.
Juninho sentiu a mão da irmã agarrá-lo pelo braço e puxá-lo pelo corredor da casa até o quarto. Ela falava muitas coisas que ele não conseguia prestar a atenção. Deitou-se na cama e ouviu a irmã dizer que “a mãe vai ficar sabendo disto e ele vai ficar de castigo”. Mas ele não se importava. Queria dormir. A tosse não o deixava pegar no sono. Amélia saiu do quarto e, quando voltou, trouxe uma xícara de chá para ele tomar. Ela o fez sentar-se na cama e expulsou os irmãos do quarto. Com muito esforço, ele tomou o chá até o fim.

quinta-feira, 19 de junho de 2008

Saudoso amigo


Tive que fazer esta paradinha hoje. Amanhã a gente volta com "O menino que comia pitangas"


Saudoso amigo

Porque a gente nunca o via triste.
Porque a gente gostava da falta de escrúpulos dele.
Porque a gente ria muito juntos.
Porque a gente podia conversar sobre qualquer coisa sem sentir vergonha.
Porque a gente não concordava em tudo e, por isso, nossas conversas eram legais.
Porque a gente tentava convencer o outro do contrário.
Porque, mesmo convencidos, a gente não dava o braço a torcer.
Porque a gente sempre tinha assunto.
Porque a gente se perdia naquele violão e esquecia de voltar pra aula.
Porque a gente gostava das músicas dele.
Porque a gente tinha sonhos infantis.
Porque a gente trocava conhecimento sobre gramática e redação.
Porque a gente tinha o mesmo sonho: escrever.
Porque a gente se emprestava livros.
Porque a gente gostava dos mesmos livros.
Porque a gente brincava feito crianças no meio da ULBRA.
Porque a gente vinha de mundos diferentes mas, mesmo assim, se gostava muito.
Por tudo isso, Thiago, tu foste um grande amigo e a gente nunca vai te esquecer.
Adeus!

terça-feira, 17 de junho de 2008

O mundo é meu – Humanidade

Chegamos ao ápice desta trilogia. Primeiro, vimos que o mundo é a nossa casa e que convivemos nele com outras pessoas. Depois, falamos sobre como os homens fazem parte de um todo maior e sobre o cuidado com o meio ambiente. Agora, escrevo sobre o mais importante: o SER HUMANO. Não é nenhum tipo de egocentrismo, é exatamente o contrário. De nada adianta cuidar do meio ambiente e saber que o mundo é nossa casa e se esquecer das pessoas que dividem o mundo conosco.
Muitas vezes vemos um cãozinho de rua e sentimos muita pena dele e, logo adiante, passamos por uma criança pedindo “uma moeda, tio” e dizemos que não temos, continuando nossa caminhada apressada. O cãozinho não tem culpa de ser “de rua”. Nem a criança! Dizer que a culpa é dos pais dela é fugir da responsabilidade. Esse menino é gente como a gente. É um ser humano como nós, porém vítima de uma sociedade egoísta, uma sociedade onde quem tem muito quer sempre mais e não divide.
O Brasil é um dos países com maior desigualdade social. Tem pessoas que tem muito, muito dinheiro e uma grande maioria com pouquíssimo dinheiro. Há uma boa parte da população que não tem nem o que comer. E existem os que têm condições de alimentar mais umas seis famílias, além da sua. Mas, é claro que eles não alimentam estas seis famílias. Parece que quanto mais as pessoas possuem, mais egoístas elas se tornam. Volta e meia sai alguma notícia de pessoas que fazem ações sociais e, quase nunca são pessoas ricas. Por vezes, também sabemos de grandes doações feitas por milionários famosos para instituições de caridade. Não sei quais são as reais intenções dos doadores, mas, pelo menos, ajudam.
Voltando ao menino com fome, sei que não se deve dar dinheiro para estas crianças. Sei que lugar de criança é na escola ou brincando, sendo criança. Mas, se o menino está com fome, como pode estudar? Como pode brincar? É um grande paradoxo, mas sempre há uma solução. A gente pode começar um trabalho voluntário ou, simplesmente, dar um sanduíche ao invés de uma moeda.
Acredito que o que falta nas pessoas é compaixão pelos outros. Falta amor. Fala-se tanto em ter cuidado com nós mesmos, com nosso corpo, com nosso dinheiro, nossa casa, carro, etc. e se esquece de estender este cuidado ao próximo. Nós estamos todos morando no mesmo mundo. Quando um perde, todos perdem. Quem disse que para um ganhar os outros têm que perder? Há sempre uma maneira de todos ganharem juntos. Se nós reconhecermos que as pessoas de rua são tão humanas quanto nós, já estaremos um passo mais perto de ajudá-los por vontade, por querer-lhes bem.
Quando eu morrer – porque eu penso na morte, não que eu tenha medo, mas, eventualmente, me ocorre que um dia eu vou morrer – quero ter a consciência de que o mundo é um pouco melhor por minha causa. Isso faria minha vida ter valido à pena. Quero saber que tem uma pessoa vivendo melhor, uma criança a menos na rua, uma família sem fome. Quero saber que eu fiz a diferença, porque o mundo é meu e eu sou responsável por ele.

quinta-feira, 12 de junho de 2008

O menino que comia pitangas - Parte V

Depois de almoçar o feijão-com-arroz de sempre, foi sentar-se debaixo da pitangueira. Chegou Carambola e deitou-se ao seu lado. Juninho pousou a mão sobre a cabeça dele e alisou os pelos do cão copiosamente. Margarida saiu à porta da casa e seu olhar encontrou Juninho recostado no tronco da árvore. Sorriu e atravessou a alameda saltitante. Aquela era a última tarde de férias. Eles resolveram aproveitar da melhor maneira: indo até o jardim florido no outro bairro.
Caminharam despreocupadamente durante muitos minutos, rua após rua, lomba após lomba. Estavam ofegantes por causa do sol forte e das subidas íngremes. Mas valia à pena. Eles sabiam que valia à pena.
As flores estavam cheirosas e a caramboleira estava com as folhas verdinhas. O jardim parecia estar mais bonito do que na primavera. A luz do sol iluminava cada flor, cada folha e cada borboleta que passava. Juninho foi pegar uma carambola para ele e uma para Margarida. Os dois sentaram-se ali perto, encostados num muro baixo de um terreno abandonado e comeram as carambolas. O calor estava muito intenso e Juninho sentiu-se sonolento. Margarida não conseguia manter os olhos abertos.
Acordaram uma hora depois, com o sol começando a baixar. Margarida levantou num pulo e arrumou o vestido. Juninho pôs-se de pé e os dois iniciaram o caminho de volta, seguidos pelo fiel companheiro, Carambola.
Chegaram antes de notarem a ausência deles. Já estava quase na hora de Juninho arrumar a mesa da janta, tarefa que ele terminou antes que pedissem. Jantou uma sopa de arroz com pouco sal e tirou os pratos da mesa. Estava cansado da caminhada da tarde e, logo, foi se deitar. Seus irmãos já estavam em suas camas. Otávio lia uma revista de história em quadrinhos que era de um amigo seu, e Vitor brincava com um carrinho velho. Juninho acomodou-se debaixo do cobertor fininho e adormeceu assim que deitou a cabeça no travesseiro.

segunda-feira, 9 de junho de 2008

O mundo é meu: meio ambiente

Não gosto quando dizem que o homem destrói o meio ambiente. Não que não seja verdade, mas isso dá a impressão de que a humanidade é uma coisa separada do resto. Parece que a onça pintada e a jaguatirica vivem numa esfera diferente da nossa. Mas, nós moramos todos no mesmo mundo. O ser humano também faz parte da natureza. Sendo assim, quando o homem destrói o meio ambiente está prejudicando a si mesmo, não tão indiretamente quanto possa parecer.
Na escola, nos ensinam que as pessoas de antigamente desmataram imensas áreas de florestas nativas e hoje sofremos as conseqüências disto. Noto que as coisas não mudaram muito de lá pra cá. Nós continuamos desmatando e, ainda por cima, também poluímos o ar, a água e, até mesmo, a terra. Nós continuamos destruindo espécies e não pensando no futuro. Continuamos a fazer estas coisas estúpidas. E toda esta estupidez não vai afetar apenas o futuro, já sofremos com isto agora, cada vez que chove e os bueiros entopem, transbordam e arruínam casas e pessoas, ou cada vez que saímos nas ruas e adquirimos problemas respiratórios gratuitamente causados pela poluição.
Não sou contra usar elementos da natureza para nosso benefício, mas temos que lembrar que nada desaparece, as coisas se transformam. O plástico usado na sacola do mercado, por exemplo, não some só porque o colocamos o lixo pra fora, ele continua no mundo. Não existe lado de fora do mundo. Tudo que está aqui, aqui fica. São toneladas de lixo que se produz todo dia. E isto tudo fica convivendo conosco.
Porém, se tudo se transforma, podemos tirar proveito disto. Quer dizer que tudo pode ser reaproveitado, basta encontrar a melhor forma de fazer isto. A reciclagem é um ótimo exemplo de reaproveitamento. Também, podemos reaproveitar de outras formas. Podemos utilizar garrafas plásticas, caixas de papelão, latas de bebidas para construir coisas novas, é só usar a imaginação. Afinal, tem gente que vive disto. Tem os que vivem de catar papel, plástico, lata, vidro e vender para a reciclagem.
Tem os que “fazem a sua parte” separando o lixo em casa, economizando água, desligando as luzes, usando menos plástico. Só que a “minha parte” não se resume a isto. Acredito que temos o dever de esclarecer as pessoas sobre estas coisas. Existe gente que não tem esta consciência ambiental. Nós precisamos ir até elas de alguma forma e ensiná-las.
Além das pessoas que não sabem, há os que sabem e não praticam. Sempre me pareceu que isto acontece mais nas classes altas da sociedade. São pessoas que não se preocupam tanto em reaproveitar as coisas, pelo simples fato de que não precisam. Se algo estraga ou se quiserem alguma coisa nova, eles podem comprar. Não quer dizer que todos são assim, até mesmo porque estas pessoas geralmente são mais esclarecidas.
Isto nos mostra que reaproveitamento, reciclagem e cuidado com o meio ambiente é uma forma de economizar. Quando fechamos a torneira enquanto escovamos os dentes ou em momentos durante o banho, economizamos água. Quando apagamos as luzes durante o dia ou quando não há ninguém no cômodo, economizamos energia elétrica. São coisas pequenas, mas que no final do mês fazem uma diferença considerável no bolso.
No final, todo mundo sai ganhando. Se o jeitinho brasileiro é tirar proveito onde for possível, não temos desculpas pra não cuidar do nosso mundo.
O mundo é meu, e eu sou responsável por ele.

quinta-feira, 5 de junho de 2008

O menino que comia pitangas - Parte IV

Bom dia!
Aí vai mais uma parte do conto. Boa leitura.

Abraços



Dona Teresa admirou-se da hora que os filhos chegaram em casa.
- Terminou cedo o desfile este ano. – disse.
- Ainda não terminou, mãe. – respondeu Amélia. - É que não estou sentido-me bem e resolvemos voltar para casa. Vou me deitar.
Juninho entendeu que a irmã nunca contaria o que realmente acontecera para a mãe. Talvez por isso ela tivesse gritado tanto com eles. Juninho disse boa noite para a irmã e para a mãe e foi para o quarto. Seus irmãos não estavam no quarto. Ele se deitou na cama do meio e imaginou o que seus irmãos estariam fazendo e quem os repreenderia desta vez. Eles não gostavam de assistir os desfiles, então, sempre arranjavam um outro programa com amigos da rua. No último ano, eles foram encontrados perturbando os animais do Seu Tadeu. Na manhã seguinte ao acontecido, as vacas não deram leite e as galinhas estavam estressadas. Descobriu-se que tinha sido os filhos do Seu Paulo, de quem Juninho era filho também, que armaram a peraltice. Ficaram uma semana sem poder brincar na rua.
Não demorou muito para Juninho adormecer no quarto vazio. No meio da noite, ele acordou e viu que seus irmãos ainda não haviam voltado para casa. Levantou-se e caminhou até a cozinha para beber um copo de água, apesar de sua mãe ter dito para não o fazer. Sempre que bebia água à noite, seu colchão e lençóis amanheciam molhados. Encontrou sua mãe dormindo no sofá da sala. Pegara no sono esperando os filhos voltarem. Juninho pensou no castigo que receberiam desta vez.
Pela manhã, ficou sabendo que seus irmãos só poderiam sair de casa para ir à escola por duas semanas. Nada de brincar na rua depois do almoço ou à noite. Só o tempo suficiente para ir e voltar da escola. Não lhe contaram o que aconteceu na noite anterior, mesmo tendo insistido até sua mãe o mandar brincar na rua com “aquele cachorro imundo”. Ela não gostava de Carambola, mas Juninho não desistiu do amigo. Até que, por fim, ela teve que se render. “Mas não quero saber dele aqui dentro de casa. Lugar de cachorro é na rua. Ainda mais de cachorro fedido e sujo”, foi o que ela disse. De fato, o cusco nunca entrou na casa.
As aulas começariam no dia seguinte. Juninho foi preparar seu material assim que acordou. Abriu a gaveta mais baixa do móvel da sala e tirou de dentro dela alguns cadernos velhos e um estojo com lápis, borracha, apontador e uma bolinha de gude de vidro verde. A bolinha de gude servia para dar sorte nas provas bimestrais. Pegou ainda uma mochila com a alça direita remendada e com um zíper que não fechava mais. Guardou tudo na mochila vermelha e encostou-a ao pé da cama.

segunda-feira, 2 de junho de 2008

O mundo é meu

Alguém disse que, no Brasil, o espaço público é um lugar de ninguém e não um lugar de todos, como deveria ser. O que essa pessoa quis dizer é que ninguém se preocupa com um lugar que é seu. Acontece que as pessoas parecem não entender que este é um espaço delas. Pensam que seu espaço termina nos limites da sua propriedade. Pois lhes digo que o espaço público também é seu. A calçada que eu caminho também é minha; o orelhão também é meu; os bancos, as lâmpadas, as praças, as árvores, tudo isto é meu.
Vamos pensar o seguinte: eu moro numa casa. Esta casa está num bairro de uma cidade que, por sua vez, ocupa um lugar no estado que faz parte de um país e todos os países formam o mundo. Portanto, o mundo inteiro é minha casa. Não seria óbvio, seguindo esta lógica, que eu cuidasse do mundo como cuido da minha casa?
Vocês podem dizer “mas tem tanta gente que pode cuidar” ou “mas a minha casa eu cuido do jeito que eu quero” e eu respondo: o mundo é como uma casa onde vive bastante gente. Cada um faz uma tarefa e ajuda os outros, porque a casa também é sua. Entra-se em consenso de como fazer as coisas para que todos fiquem satisfeitos. E todos sabem que, se cada um fizer a sua parte, a casa vai melhorar e progredir.
Acredito que com o mundo também funcione desta forma. Com cada um fazendo sua parte o mundo só pode melhorar e progredir. Assim, posso concluir que o mundo é meu e eu sou responsável por ele.